Segundo economista Gabriel Lago, isso ocorre em grande parte devido ao desequilíbrio das contas públicas brasileiras
O Banco Central (BC) manteve a taxa de juros em 15% no Brasil no mesmo dia em que o Federal Reserve (Fed) fez um corte de 0,25 ponto porcentual, fixando-a no intervalo de 4% a 4,25% ao ano. O movimento foi simultâneo, mas sem sincronia.
O fato de os EUA reduzirem juros poderia servir como um estímulo para a economia brasileira, mas isso não acontece porque a condução da economia pelo governo brasileiro tem impedido que a taxa no Brasil seja reduzida por parte do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC.
“O corte do Fed ajuda nas condições financeiras globais, mas acredito que não é gatilho automático para o Brasil”, avalia Gabriel Lago, planejador financeiro e sócio-fundador da The Hill Capital.
“Nos EUA, o foco agora é ‘gestão de risco’ diante de mercado de trabalho que enfraquece e tarifas que pressionam preços. Já aqui, o Copom bateu na tecla de expectativas ainda desancoradas e necessidade de juro contracionista por período prolongado. Ou seja: o Fed abre a porta, mas o BC só entra quando a nossa dinâmica de inflação permitir.”
A decisão nos EUA ocorreu em um cenário de ameaça de repique da inflação, em função da alta das tarifas que encareceu muitos produtos importados. A taxa anual de inflação nos EUA subiu para 2,9% em agosto de 2025, de acordo com o U.S. Bureau of Labor Statistics (BLS).
É a mais alta desde janeiro, depois de se manter em 2,7% tanto em junho e julho, dentro das expectativas do mercado. A maior preocupação do governo norte-americano, porém, é em relação ao nível de empregos, segundo Lago.
“O risco maior agora é no emprego”, ressalta o economista. “O Fed vê as tarifas como um choque temporário de preços, mas não quer deixar a economia escorregar para uma recessão. A inflação lá está alta de forma temporária por conta das tarifas, mas o baixo número de novas vagas de empregos acende uma alerta vermelho para uma possível recessão, que seria muito ruim paga o mercado e é algo que o governo de Donald Trump luta contra.”
Juros altos no Brasil
Em relação ao Brasil, Lago atribui grande parte desse longo período de juros altos à incapacidade do governo de equilibrar as contas.
“Sem dúvida há responsabilidade do governo”, destaca. “Quando o Copom fala em expectativas desancoradas, está se referindo também ao fiscal. O governo gasta mais, cria incerteza, e quem paga é o investidor e o consumidor, com juros mais altos por mais tempo.”