O relatório também indica que os bancos avaliam que o crédito vem crescendo mais devagar, enquanto as famílias e as empresas estão mais endividadas
As instituições financeiras passaram a enxergar uma piora na saúde financeira das famílias, segundo a Pesquisa de Estabilidade Financeira do BC (Banco Central) referente ao quarto trimestre de 2025, divulgada nesta quinta-feira (27).
O levantamento mostra que os bancos estão mais preocupados com o endividamento e com a capacidade de pagamento das famílias nos próximos meses.
“Aumento da percepção de alta na alavancagem das famílias e empresas, o que pode impulsionar ainda mais a inadimplência”, diz o texto.
Pelo texto, o grupo “inadimplência e atividade” subiu e se tornou um dos três principais fatores de preocupação para o setor financeiro, atrás apenas do risco fiscal.
Quando perguntadas qual é o risco mais importante para os próximos três anos, 26% das instituições apontaram diretamente o risco de inadimplência — uma alta 10% frente aos levantamentos anteriores.
Quando se considera o conjunto das três respostas possíveis por instituição, o risco também cresce, passando de 0,55 para 0,62 citações em média — sinal de que o alerta sobre as famílias se espalhou e ganhou peso no sistema financeiro.
O relatório também indica que os bancos avaliam que o crédito vem crescendo mais devagar, enquanto as famílias e as empresas estão mais endividadas. No ciclo econômico, a maioria das instituições classifica o momento atual como de contração, ou seja, de economia mais fraca.
Na quarta-feira (26), o BC divulgou que o comprometimento de renda das famílias disparou e alcançou o maior nível da série histórica. O indicador chegou a 28,8% em setembro, avanço de 0,2 ponto no mês e 1,6 ponto em 12 meses. Só com pagamento de juros, as famílias comprometem 10,23% de tudo o que ganham.
O número é pior do que quando o governo lançou o Desenrola, programa voltado para pessoas físicas liquidarem dívidas, em julho de 2023, o comprometimento estava em 27,3%.
O endividamento das famílias também avançou. Pela série do BC, a relação entre o estoque de dívidas e a renda acumulada dos últimos 12 meses subiu para 49,1% em setembro, após registrar 48,95% em agosto e 48,64% em julho, e se tornou o maior da série em três anos.
Ciclo econômico segue fraco e contribui para o aperto das famílias
A maioria das instituições classifica o momento atual do ciclo econômico como de contração, o que significa atividade mais fraca e cenário menos favorável para renda e consumo — fatores que atingem diretamente as famílias mais endividadas.
De acordo com o BC, comparado à pesquisa anterior realizada em agosto, a avaliação das instituições financeiras pesquisadas sobre os riscos à estabilidade financeira para os três próximos anos é de risco em quatro frentes:
- inadimplência e atividade (alto endividamento num ambiente de taxas de juros elevadas apontam para aumento de inadimplência),
- fiscal (preocupações com a sustentabilidade da dívida pública e impactos do fiscal na política monetária),
- cenário internacional (incertezas principalmente quanto aos efeitos das medidas tarifárias dos EUA),
- e riscos operacionais (relacionado à crescente digitalização do SFN)
No entanto, apesar da piora nos indicadores ligados às famílias, o BC afirma que a confiança na estabilidade do sistema financeiro continua alta.
A maior parte das instituições recomenda manter o ACCPBrasil (Adicional Contracíclico de Capital Principal) em 0%, por entender que o sistema permanece sólido, mesmo com o aumento dos riscos vindos do endividamento das famílias.
“O índice de confiança na estabilidade do SFN segue elevado e com aumento na margem em relação ao período anterior; e a maioria dos respondentes espera e sugere que o valor do ACCP Brasil seja mantido”, destacou o BC.