A exatas duas semanas para que entre em vigor a tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos, as negociações seguem a passos lentos entre o governo brasileiro e Washington.
A dificuldade em identificar interlocutores tem sido manifestada pelo próprio governo que, após dois dias de reuniões com representantes do setor produtivo, encaminhou uma nova carta para o USTR – órgão responsável pelo comércio dos EUA – pedindo por negociações e reiterando as críticas à sobretaxa.
No entanto, a gestão do presidente Lula para a crise tem sido alvo de críticas por parte de especialistas e autoridades diplomáticas quanto à morosidade na articulação direta com os EUA, enquanto países como Japão, Índia, Indonésia e Coreia do Sul já desenvolvem acordos bilaterais.
A segunda carta enviada aos americanos como resultado das primeiras reuniões, por exemplo, é vista com ceticismo.
“Um carta enviada possivelmente nem será lida até 1º de agosto, tamanha a quantidade de parceiros na fila”, explica o ex-Secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia e diretor do Centro de Negócios Globais da FGV (Fundação Getulio Vargas), Lucas Ferraz, que lembra a ampla fila de países que estão com conversas mais avançadas e uma ampla equipe em território americano.
O setor produtivo, apesar do apoio à soberania, tem defendido o diálogo, o aumento do prazo para negociar e uma solução diplomática. Apesar da incerteza, o vice-presidente Geraldo Alckmin sinalizou que o país pode pedir mais tempo ao presidente americano.
Lucas de Aragão, sócio-diretor da Arko Advice, comenta que faltou senso de urgência para o Brasil desde o “Dia da Libertação”, quando Trump anunciou a política tarifária, em abril. Até então, o Brasil esteve no grupo de países que enfrentavam a taxa mínima, de 10%.
“O Brasil não buscou com muita urgência uma negociação, por motivos diversos. Ao mesmo tempo não da para viver disso [aumento de popularidade]. Isso tudo perde validade rápido. O governo vai ter que negociar por pressão do setor produtivo, que tem uma sensação clara de que não é boa ideia não negociar e ter uma briga aberta com os EUA”, considera Aragão.
O Japão que é um dos países que vem empenhando esforços para chegar a um acordo com os americanos deve realizar uma nova reunião nesta sexta-feira. O governo local escalou o primeiro-ministro Shigeru Ishiba para conversar com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, em Tóquio.
A Indonésia conseguiu fechar um acordo com Trump, anunciado pelo republicano na terça-feira (15). Já no caso da Coreia do Sul, o principal enviado comercial do país, o ministro do Comércio, Yeo Han-koo, afirmou que o país está próximo de um consenso com Washington.
Vácuo em Washington
Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM, pondera que enquanto o governo não possui um canal de diálogo na Casa Branca, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem tido influencia no embate tarifário.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu a atuação do deputado dizendo que Eduardo tem “portas abertas na Casa Branca, no Capitólio”.
Chama atenção que não conseguimos estabelecer um canal mínimo de negociação. Por que o vice-presidente brasileiro não está em Washington? Alckmin deveria estar lá para chamar a atenção dos americanos”, aponta Lucas Ferraz.
A avaliação é de que a prioridade agora é abrir esse canal oficial com o presidente americano. Rudzit alerta que uma visão ideologizada vai prejudicar ainda mais o cenário e pode escalar as tensões.
Especialistas consideram que falta articulação política e diplomática, visto que o Brasil tem muito a perder com uma guerra comercial contra os EUA. “É muito ruim, por mais que tenha diferenças entre governos, é ruim para o país não saber para quem ligar em um momento desse”, diz Aragão.
Episódios como o do Japão, da União Europeia e até mesmo da Ucrânia através da inúmeras negociações entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump, dentro do contexto da guerra, são elencados pelos cientistas como exemplos de como deve ser tratada o diálogo com os EUA.
Escalada
Apesar dos alertas de cientistas e especialistas em relações diplomáticas, o presidente Lula deu um novo sinal que pode tencionar ainda mais o cenário, ao declarar que o Brasil cobrará imposto de “empresas americanas digitais”.
“Esse país só é soberano porque o povo brasileiro tem orgulho desse país. Eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e cobrar impostos das empresas americanas digitais”, disse o petista durante discurso no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia.
Ainda nesta quinta-feira, em entrevista exclusiva à CNN, o presidente brasileiro disse que Donald Trump não foi “eleito para ser imperador do mundo”, e que o Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto.
A repercussão veio em seguida, através de Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca. Ela rebateu as declarações de Lula e afirmou que Trump não tenta ser imperador do mundo, mas que ele “é líder do mundo livre”.
Atuação do governo Lula é alvo de críticas de especialistas; tarifas de 50% passam a valer em duas semanas
A exatas duas semanas para que entre em vigor a tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos, as negociações seguem a passos lentos entre o governo brasileiro e Washington.
A dificuldade em identificar interlocutores tem sido manifestada pelo próprio governo que, após dois dias de reuniões com representantes do setor produtivo, encaminhou uma nova carta para o USTR – órgão responsável pelo comércio dos EUA – pedindo por negociações e reiterando as críticas à sobretaxa.
No entanto, a gestão do presidente Lula para a crise tem sido alvo de críticas por parte de especialistas e autoridades diplomáticas quanto à morosidade na articulação direta com os EUA, enquanto países como Japão, Índia, Indonésia e Coreia do Sul já desenvolvem acordos bilaterais.
A segunda carta enviada aos americanos como resultado das primeiras reuniões, por exemplo, é vista com ceticismo.
“Um carta enviada possivelmente nem será lida até 1º de agosto, tamanha a quantidade de parceiros na fila”, explica o ex-Secretário de Comércio Exterior do Ministério da Economia e diretor do Centro de Negócios Globais da FGV (Fundação Getulio Vargas), Lucas Ferraz, que lembra a ampla fila de países que estão com conversas mais avançadas e uma ampla equipe em território americano.
O setor produtivo, apesar do apoio à soberania, tem defendido o diálogo, o aumento do prazo para negociar e uma solução diplomática. Apesar da incerteza, o vice-presidente Geraldo Alckmin sinalizou que o país pode pedir mais tempo ao presidente americano.
Lucas de Aragão, sócio-diretor da Arko Advice, comenta que faltou senso de urgência para o Brasil desde o “Dia da Libertação”, quando Trump anunciou a política tarifária, em abril. Até então, o Brasil esteve no grupo de países que enfrentavam a taxa mínima, de 10%.
“O Brasil não buscou com muita urgência uma negociação, por motivos diversos. Ao mesmo tempo não da para viver disso [aumento de popularidade]. Isso tudo perde validade rápido. O governo vai ter que negociar por pressão do setor produtivo, que tem uma sensação clara de que não é boa ideia não negociar e ter uma briga aberta com os EUA”, considera Aragão.
O Japão que é um dos países que vem empenhando esforços para chegar a um acordo com os americanos deve realizar uma nova reunião nesta sexta-feira. O governo local escalou o primeiro-ministro Shigeru Ishiba para conversar com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, em Tóquio.
A Indonésia conseguiu fechar um acordo com Trump, anunciado pelo republicano na terça-feira (15). Já no caso da Coreia do Sul, o principal enviado comercial do país, o ministro do Comércio, Yeo Han-koo, afirmou que o país está próximo de um consenso com Washington.
Vácuo em Washington
Gunther Rudzit, professor de Relações Internacionais da ESPM, pondera que enquanto o governo não possui um canal de diálogo na Casa Branca, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem tido influencia no embate tarifário.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu a atuação do deputado dizendo que Eduardo tem “portas abertas na Casa Branca, no Capitólio”.
Chama atenção que não conseguimos estabelecer um canal mínimo de negociação. Por que o vice-presidente brasileiro não está em Washington? Alckmin deveria estar lá para chamar a atenção dos americanos”, aponta Lucas Ferraz.
A avaliação é de que a prioridade agora é abrir esse canal oficial com o presidente americano. Rudzit alerta que uma visão ideologizada vai prejudicar ainda mais o cenário e pode escalar as tensões.
Especialistas consideram que falta articulação política e diplomática, visto que o Brasil tem muito a perder com uma guerra comercial contra os EUA. “É muito ruim, por mais que tenha diferenças entre governos, é ruim para o país não saber para quem ligar em um momento desse”, diz Aragão.
Episódios como o do Japão, da União Europeia e até mesmo da Ucrânia através da inúmeras negociações entre Volodymyr Zelensky e Donald Trump, dentro do contexto da guerra, são elencados pelos cientistas como exemplos de como deve ser tratada o diálogo com os EUA.
Escalada
Apesar dos alertas de cientistas e especialistas em relações diplomáticas, o presidente Lula deu um novo sinal que pode tencionar ainda mais o cenário, ao declarar que o Brasil cobrará imposto de “empresas americanas digitais”.
“Esse país só é soberano porque o povo brasileiro tem orgulho desse país. Eu queria dizer para vocês que a gente vai julgar e cobrar impostos das empresas americanas digitais”, disse o petista durante discurso no congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia.
Ainda nesta quinta-feira, em entrevista exclusiva à CNN, o presidente brasileiro disse que Donald Trump não foi “eleito para ser imperador do mundo”, e que o Brasil não aceitará nada que lhe seja imposto.
A repercussão veio em seguida, através de Karoline Leavitt, a porta-voz da Casa Branca. Ela rebateu as declarações de Lula e afirmou que Trump não tenta ser imperador do mundo, mas que ele “é líder do mundo livre”.