Enquanto a Bolsa brasileira encerrou 2024 em queda, a Argentina apresentou um desempenho oposto, com o índice Merval registrando um aumento de 172,52% no ano e o MSCI Argentina avançando 106%, um indicativo de que o país tem se tornado mais atrativo para investidores estrangeiros.
Como resultado, as perspectivas para o Brasil no portfólio de América Latina são negativas, enquanto a exposição à Argentina está crescendo, embora com cautela.
Segundo o Bradesco BBI, um número crescente de investidores está voltando sua atenção para empresas argentinas que vão além das opções tradicionais. O banco, em um relatório recente, destaca empresas que não seguiram a mesma trajetória de crescimento do mercado argentino, mas que possuem uma parcela significativa de suas operações ou vendas no país. Estas companhias podem se beneficiar dos ajustes econômicos que o governo de Javier Milei está implementando também em 2025.
A análise considera tanto o aumento potencial das vendas na Argentina, com uma economia mais estável, quanto o lado da oferta, avaliando a proporção de ativos de cada empresa no país em relação ao total.
Os analistas apontam que há uma relação entre a exposição das empresas à Argentina e o desempenho acumulado ao longo do ano, sugerindo que estar presente no mercado argentino pode ser um fator crucial para o bom desempenho das ações.
A conclusão do Bradesco BBI é que a Argentina é mais atraente para os investimentos do que muitos imaginam, já que várias empresas podem ver seus valuations impulsionados por: i) uma redução no risco-país, que caiu consideravelmente de 2.000 pontos no início de 2024 para 650 pontos atualmente, e ii) uma melhoria nos resultados, incluindo vendas, lucros e fluxo de caixa.
O banco listou 17 empresas que se encaixam nesse cenário, como Geopark, Raízen (RAIZ4), Cencosud, Andina, CCU, Adecoagro, Ternium, CAAP, Marcopolo (POMO4), Lithium Argentina, Fortuna Mining, NGEx Minerals, Natura & Co, Arcos Dorados, Despegar (ou Decolar no Brasil), Mercado Livre (BDR: MELI34) e Enel Américas.
Além disso, o Bradesco BBI preparou uma segunda lista, mais concisa e detalhada, com empresas que apresentam maior convicção em relação à exposição indireta à Argentina, incluindo Geopark, Raízen, Marcopolo, Mercado Livre e Ternium.
O banco também destacou alguns gatilhos para a tese sobre a Argentina, mantendo sua exposição overweight (acima da média) e indicando suas principais escolhas: GF Galicia, YPF, Edenor, TGS e Central Puerto.
O Morgan Stanley, em um relatório sobre América Latina, reiterou o Brasil como underweight (abaixo da média), mas ressaltou os avanços impressionantes da Argentina em seu processo de reintegração aos mercados globais de capitais. O banco elogiou as políticas fiscais e de desregulamentação adotadas em 2024, que superaram as expectativas, e decidiu incluir duas ações argentinas — Vista e Edenor — em seu portfólio de investimentos na América Latina.
Apesar de acreditar que uma reestruturação completa da Argentina nos mercados de capitais exigirá uma independência constitucional do Banco Central e uma conta de capital aberta, o Morgan Stanley estima que levará de dois a três anos para que as ações argentinas sejam novamente incluídas no MSCI da América Latina.
A mudança na política da Argentina pode ser um indicativo de mudanças políticas mais amplas na região, servindo como um “canário na mina de carvão” para os próximos desenvolvimentos. Uma possível reclassificação das ações argentinas poderia gerar cerca de US$ 1,1 bilhão em fluxos de investimento, segundo o banco.
A Argentina tem atraído a atenção global por seu agressivo progresso em reformas, mesmo diante de uma recessão econômica. Isso pode influenciar mudanças políticas em outros países da América Latina, especialmente com eleições em países como Chile, Colômbia, Peru e Brasil nos próximos dois anos.
O analista de petróleo e gás do Morgan Stanley, Bruno Montanari, acredita que a balança comercial de energia da Argentina pode se tornar um motor importante para a economia na próxima década. A expectativa é que as exportações de petróleo aumentem significativamente, com projeções de 550 mil barris por dia até o final da década, podendo chegar a 700 mil barris por dia.
Atualmente, as ações argentinas estão sendo negociadas com um desconto de 20% em relação ao índice da América Latina, e os lucros das empresas argentinas listadas no portfólio do Morgan Stanley se recuperaram de forma expressiva. A capitalização de mercado dessas ações aumentou cerca de 620%, e os lucros cresceram 490%.
O grande desafio agora é se o crescimento dos lucros será sustentável. Embora os esforços de desregulamentação e o reequilíbrio macroeconômico devam continuar impulsionando os lucros, o risco político permanece, e o apoio contínuo para manter esse equilíbrio será crucial. Até agora, o apoio político tem sido forte, e sinais iniciais indicam uma estabilização da atividade econômica.
O Morgan Stanley recomenda a compra das ações argentinas Vista e Edenor, destacando a Vista como a ação favorita no setor de petróleo e gás devido ao seu histórico comprovado e boas perspectivas de crescimento.