Uma mudança fiscal inesperada no Brasil, o maior exportador mundial de soja, está levando compradores chineses a se abastecerem nos EUA.
Desde o anúncio da alteração na última terça-feira (4), importadores chineses, os maiores compradores de commodities do mundo, adquiriram pelo menos 208 mil toneladas de soja, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Essas compras relâmpago são as primeiras desse tipo desde janeiro.
Essas aquisições ressaltam a dificuldade que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará para aprovar a chamada MP das Compensações, que limita a capacidade dos exportadores e processadores de commodities do Brasil de monetizar alguns créditos fiscais. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já considera reverter a decisão após gerar insatisfação entre empresas e no Congresso, segundo fontes próximas ao assunto.
“A China está comprando suprimentos dos EUA porque os compradores no Brasil não podem repassar esses custos mais elevados ao agricultor”, disse Victor Martins, gerente de risco para a América Latina da Amius. “Eles estão pagando mais porque as ofertas no Brasil estão reduzidas.”
A Abiove, uma associação industrial que representa grandes comerciantes de produtos agrícolas, incluindo as gigantes Archer-Daniels-Midland, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus (os ABCDs), já havia alertado que a medida diminuiria os lucros dos processadores de soja. Alguns traders também retiraram novas ofertas de commodities como soja e milho do mercado.
Além disso, os EUA venderam 152 mil toneladas de milho para destinos desconhecidos no mesmo período, movimento que alguns traders também atribuíram à mudança tributária no Brasil.