Nos últimos anos, o que parecia ser ascensão tornou-se ilusão. A classe média brasileira, estrato que deveria representar estabilidade, consumo e progresso, está em colapso silencioso. Poucos alertam. Muitos vivem no esforço cotidiano. A cada inflação, a cada crise política, a cada instabilidade institucional, um pedaço desse estrato desaparece, conforme demonstra a Revista Oeste.
A inflação como corrosivo do poder de compra
Entre 2010 e 2025, os preços no Brasil subiram mais de 140%, mas os salários em geral permanecem quase os mesmos de então. Quem ganhava R$ 5.000 há uma década hoje precisaria de cerca de R$ 12.400 só para manter o mesmo padrão de vida.
A moeda nacional, o real, perdeu uma parte expressiva de seu valor. Desde o Plano Real, em 1994, o real perdeu aproximadamente 87% do poder de compra. O que equivalia a R$ 100 naquela época vale hoje pouco mais de R$ 12 em termos comparativos.
Essa erosão monetária não atinge apenas o bolso: ela corrói expectativas, adia sonhos, frustra planos. Aumento de preços de alimentos, combustíveis, saúde privada e lazer empurram famílias para ajustar cortes, para sacrificar qualidade, para adiar ou desistir de metas.
Estagnação salarial e desigualdade crescente
Enquanto os mais pobres dependem de auxílios públicos, e os muito ricos conseguem fugir dos impactos com diversificação ou proteção patrimonial, a classe média é quem sofre o aperto mais direto. Impostos altos, taxas, custos de serviços subindo — mas com salários que não acompanham.
Dados recentes mostram que a chamada “classe C”, durante o governo passado, viu sua renda disponível encolher cerca de 10%, entre 2017 e 2022: menos margem para emergências, menos segurança para consumir.
A mobilidade social emperrada
O sonho de mobilidade — de melhoria de vida, educação, segurança — tornou-se distante para muitos. Instituições como a OCDE apontam que, no Brasil, seriam necessárias nove gerações para que uma família pobre alcançasse o padrão de vida médio atual. Um número que simboliza o quanto o país estagnou, quanto a desigualdade cresceu, quanto a promessa de progresso falhou.
Com crises políticas recorrentes, incertezas nas políticas econômicas, instabilidade monetária, e falta de clareza de rumos, a classe média vive num limbo: renda bruta pode até aumentar, mas o que realmente sobra no fim do mês geralmente diminui.
A classe média como alicerce que desmorona
Quando a classe média vacila, a sociedade como um todo sofre. É dela que saem os consumidores, os pagadores de impostos, os investidores locais. É ela que sustenta setores inteiros — varejo, serviços, educação, saúde privada. Se esse estrato se pulveriza, a base econômica se enfraquece.
Além disso, politicamente, uma classe média fragilizada tende a perder poder de pressão: exige menos, participa menos, resigna-se, ou radicaliza-se. E isso abre espaço para soluções frágeis, polarizações extremas, populismos.
O que pode salvar
- Políticas de contenção da inflação — foco no controle de preços de itens essenciais, subsídios estratégicos, transparência.
- Aumento real dos salários — além de reajustes para acompanhar inflação, é preciso que haja crescimento econômico sustentável.
- Reforma tributária justa — menos carga sobre o consumo, mais sobre patrimônios e lucros elevados.
- Estabilidade institucional — segurança jurídica, clareza de regras, previsibilidade econômica.
- Fomento a iniciativas privadas e rurais que gerem emprego e consumo local.
A classe média brasileira não morreu de repente. Ela se esvaiu em parcelas: perda de poder aquisitivo, cortes de serviço, adiamentos de sonho, endividamento crescente.
Mas não é irreversível. Com política certa, coragem moral e compromisso público, há chance de reconstrução. Se não for feito nada, o que resta será um país desigual, com poucos privilegiados e muitos resignados.
A “morte da classe média” não pode ser encarada como inevitável — mas como alerta: ou reagimos, ou ela deixará de sustentar o Brasil de amanhã.