Cenário deve contar com juros altos, crédito restrito e instabilidade política pressionando empresas brasileiras
A expectativa para 2026 é de que o ambiente para empresas brasileiras permaneça desafiador, com uma combinação de juros elevados, crédito restrito e instabilidade política agravando as dificuldades financeiras. Mesmo com previsões de redução da taxa Selic, especialistas sugerem que o alívio será insuficiente para evitar um possível novo recorde de pedidos de recuperação judicial e falências no país.
O boletim Focus do Banco Central projeta a Selic em 12,25% ao final do próximo ano, mas o cenário financeiro continua restritivo. Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria, afirmou, ao jornal Gazeta do Povo, que “teremos novos recordes de inadimplência corporativa; recuperações judiciais e falências devido à taxa de juros restritiva”.
Fatores que levam a recuperação judicial e falência
O impacto dos juros elevados se faz sentir no caixa das empresas, de modo a dificultar a reestruturação de dívidas e agravar a situação de quem já recorreu à recuperação judicial. A perspectiva de redução significativa da Selic só deve ser considerada para depois de 2028, o que acelera a busca por proteção judicial antes de mudanças reais na política monetária.
Na análise de Patrícia Krause, economista da Coface para a América Latina, também ao jornal Gazeta do Povo, a elevação das taxas prejudica tanto empresas quanto consumidores e limita investimentos e capacidade de pagamento.
Além do alto custo do dinheiro, a oferta de crédito permanece limitada. O setor bancário, ainda cauteloso depois do caso Americanas, adota postura restritiva, agravada pela proximidade das eleições presidenciais. O prazo médio de concessão de crédito com recursos livres chegou a 25,2 dias em outubro, o mais alto desde 2020, segundo o Banco Central.
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) observa que a desaceleração nas concessões só não é maior por causa das linhas de crédito sustentadas por programas do governo. Contudo, a exigência de garantias se tornou um obstáculo para empresas que já enfrentam dificuldades, tornando quase impossível a renegociação de dívidas sem ativos suficientes.
Empresas que sobreviveram à pandemia e às crises recentes chegam a 2026 sem reservas para oferecer como garantia. Uma pesquisa da Coface mostra que 77% das empresas na América Latina lidam com atrasos de pagamentos, com prazo médio de 42 dias, o que é fatal para negócios com pouco caixa.