No domingo (11), a seleção feminina de vôlei da Itália conquistou o ouro nas Olimpíadas de Paris, e, para comemorar, foi inaugurado um mural em Roma em homenagem a Paola Egonu. A pintura, que retratava a atleta – eleita MVP do torneio olímpico – lançando uma bola com a mensagem “pare com o racismo, ódio, xenofobia e ignorância”, foi vandalizada no dia seguinte. Agora, a frase original não é mais legível e a cor da pele de Egonu foi alterada.
Simone Giannelli, capitão da seleção masculina da Itália, usou as redes sociais para protestar contra o vandalismo e exaltar a importância de Egonu:
– As pessoas responsáveis por isso não merecem ser chamadas assim. São desprovidas de coração, dignidade e humanidade. Paola, não se preocupe com eles; espero que quem for responsável cuide disso. Você é uma grande campeã olímpica – publicou Giannelli.
Antes de alcançar o ouro em Paris, Egonu já havia enfrentado ofensas racistas de torcedores italianos. Nascida em Cittadella, perto de Veneza, a atleta é filha de pais nigerianos. Com apenas 16 anos, enquanto jogava pelo Treviso, sofreu insultos racistas da torcida rival, que imitou sons de macacos toda vez que ela tocava na bola. Naquele momento, ela chorou sem reagir.
À medida que se consolidou como uma das melhores jogadoras do mundo, Egonu passou a adotar o combate ao racismo como um lema de vida. Ela chegou a considerar deixar a seleção italiana em 2022, após conquistar a medalha de bronze no Campeonato Mundial, devido às cobranças injustas que ainda enfrentava.
Em 2018, Egonu também foi alvo de homofobia. Após um jogo, beijou a polonesa Katarzyna Skorupa, sua namorada na época. Novamente, lutou contra as ofensas e exigiu respeito.
Egonu foi a melhor sacadora das Olimpíadas de Paris
Fora das quadras, Egonu se destacou por seus posicionamentos firmes e dentro delas, nunca deixou de brilhar. Eleita a melhor jogadora das Olimpíadas, foi a principal sacadora da competição, com sete aces, e empatou com a brasileira Gabi na segunda posição do ranking de pontuadoras, com 110 pontos. Na final contra os Estados Unidos, Egonu derrubou 22 bolas, mais do que qualquer outra atleta em quadra.
O mural em homenagem a Egonu foi criado pela artista de rua Laika, em frente à sede do Comitê Olímpico da Itália, e recebeu o nome de “Italianità” (“Italianidade”, em tradução livre).
– No nosso país, não há mais espaço para xenofobia, racismo, ódio e intolerância. O racismo é uma praga social que deve ser combatida. Fazer isso através do esporte é muito importante. Acredito em um futuro de inclusão, acolhimento e respeito pelos direitos humanos. É uma honra ter atletas como Paola Egonu, Myriam Sylla (de origem marfinense) e Ekaterina Antropova (nascida na Islândia, de origem russa) representando nosso país. Vê-las com a medalha mais preciosa dos Jogos Olímpicos pendurada no pescoço enquanto cantam emocionadas o hino italiano é uma alegria imensa. Dedico este mural a todos os italianos não reconhecidos como tal pelo nosso Estado – escreveu Laika antes do vandalismo.