Será que um filme pode criticar algo ao mesmo tempo que o transforma em espetáculo? Sempre que surge uma produção dentro do gênero de ação ou que se enquadre na ideia de filme de guerra, tensionando de alguma forma a legitimidade do uso de violência extrema como meio para um fim, surge uma dúvida intrigante. Zona de Risco, mesmo que inadvertidamente, traz à tona alguns pontos interessantes para essa discussão.
A trama segue a missão de uma divisão militar especial a serviço do governo dos Estados Unidos, que precisa se infiltrar em um território no sudeste asiático controlado por traficantes de armas internacionais. Somos introduzidos à história por meio de Kinney (Liam Hemsworth), um soldado da aeronáutica com pouca experiência em combate, encarregado de auxiliar a equipe Delta como ponto de conexão entre os soldados de campo e o apoio aéreo controlado à distância por Reaper (Russell Crowe).
O filme tenta explorar a presença de Kinney e Reaper como mediadores entre os elementos tecnológicos e humanos, destacando não apenas a angústia de testemunhar eventos brutais no local, mas também o distanciamento que os drones e outras armas controladas remotamente podem causar. Infelizmente, a narrativa acaba sofrendo devido ao desequilíbrio entre os arcos de Reaper e Kinney. Enquanto a ação e violência se desenrolam no campo de batalha, o núcleo na base norte-americana, que auxilia na missão, tende a se inclinar frequentemente para a comédia. Isso quebra o ritmo do filme, já que as cenas de ação parecem levar-se muito a sério, buscando a ideia do espetáculo, mas ao mesmo tempo são um tanto desinteressantes. Nos momentos de distanciamento da ação, quando Russell Crowe, sem muito esforço, utiliza seu carisma para injetar leveza, surgem cenas que geram mais envolvimento no filme, mesmo que não estejam diretamente ligadas ao núcleo principal, como anunciado pelo marketing do longa.
A história não se preocupa muito em contextualizar a missão que impulsiona o filme, semelhante a tantas outras; o foco está mais no entretenimento gerado pela situação de guerra ou militarismo em geral, além de abordar superficialmente algumas questões éticas relacionadas ao militarismo. No final, a impressão é a de uma crítica não intencional à banalidade dos conflitos geridos pelos Estados Unidos, que vendem uma narrativa patriótica genérica para justificar sua presença em territórios estrangeiros. Enquanto os cidadãos observam à distância, vivem suas vidas constantemente envoltos pela sensação de dever para com o país, um dever que carece de motivos claros, mas é percebido como algo quase religioso.
Em uma época de ampla cobertura midiática de conflitos bélicos, guerras e invasões, onde cada lado tem um nome e uma história, Zona de Risco busca uma perspectiva, no mínimo, cínica e um tanto desinteressante sobre a cultura armamentista nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que aborda discussões sobre o impacto da tecnologia na guerra. Sua maior virtude reside nos momentos em que se afasta do conflito.