Um soldado israelense, em visita ao Brasil como turista, tornou-se alvo de uma investigação da Justiça brasileira.
A juíza Raquel Soares Charelli determinou que a Polícia Federal (PF) investigasse supostos “crimes de guerra” na Faixa de Gaza, nos quais o militar teria participado durante o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas.
A decisão gerou reações imediatas, incluindo apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro, que acusou o governo de Luiz Inácio Lula da Silva de omissão e perseguição.
Bolsonaro criticou Lula nas redes sociais, afirmando: “Esse ataque a Israel, país irmão, bem demonstra que Lula da Silva, que nada fez para sanar essa injustiça, sempre esteve ao lado de ditadores e terroristas do mundo todo”.
Investigado deixa o país
Diante da decisão judicial, o militar israelense deixou o Brasil rapidamente no sábado (4), embarcando para Buenos Aires, Argentina, com apoio da embaixada de Israel.
O Ministério das Relações Exteriores de Israel confirmou o suporte logístico e destacou preocupações com a segurança do soldado em solo brasileiro.
Origem da investigação
O pedido de investigação foi formalizado pelos advogados Maira Machado Frota Pinheiro e Caio Patrício de Almeida, da Fundação Hind Rajab (HRF), uma organização que apoia a causa palestina.
A HRF acusa o militar de envolvimento em “demolições na Faixa de Gaza” que atingiram civis em novembro de 2024.
Israel, por sua vez, defende que suas forças armadas alertam previamente a população civil antes de bombardeios e acusa o Hamas de usar civis como “escudo humano”.
Reações internacionais e polêmicas
A decisão brasileira de iniciar a investigação foi vista por muitos em Israel como uma afronta.
O congressista Dan Illouz, do partido Likud, acusou o Brasil de agir como “patrocinador de terroristas”, afirmando que “o Brasil persegue soldados israelenses enquanto ignora terroristas”.
O ex-presidente Bolsonaro também condenou a postura do governo brasileiro, afirmando que, se fosse presidente, teria recebido o soldado no Palácio do Planalto com honras.
Seu filho, Eduardo Bolsonaro, classificou a decisão judicial como um “abraço ao Hamas” e destacou que “a Justiça brasileira deveria combater terroristas, não quem os enfrenta”.
Contexto jurídico
O Brasil é signatário do Estatuto de Roma, que criou o Tribunal Penal Internacional (TPI), mas carece de legislação interna detalhando como processar crimes internacionais.
A decisão de investigar o soldado israelense, portanto, gerou debates sobre a soberania judicial brasileira e a questão dos direitos internacionais.
Enquanto isso, o governo brasileiro propôs discussão na ONU para limitar a aplicação do TPI, especialmente em casos envolvendo chefes de Estado como Vladimir Putin, acusado de crimes de guerra.
Impactos na relação Brasil-Israel
O episódio adiciona tensão às relações diplomáticas entre Brasil e Israel, que já estavam abaladas.
Em 2023, Lula foi declarado persona non grata em Israel após comparar a guerra contra o Hamas ao Holocausto.
A investigação da PF contra um militar israelense pode aprofundar ainda mais esse desgaste e comprometer futuras colaborações entre os dois países.