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sábado, 7 setembro, 2024
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Lula tenta salvar sua popularidade com inaugurações de obras incompletas e financiadas por Bolsonaro

Por Marina B.

Em busca de melhorar a avaliação de sua gestão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) intensificou suas viagens pelo país, participando da entrega de obras que não contaram com verbas federais, ainda não concluídas ou majoritariamente financiadas pela gestão anterior de Jair Bolsonaro. Um levantamento do GLOBO identificou seis eventos com a presença do presidente, mesmo sem a gestão petista ter sido determinante na liberação dos recursos.

A divulgação de obras pelo Brasil é uma estratégia para interromper a queda na popularidade do governo, tendência observada desde o ano passado. Uma pesquisa da Quaest, divulgada há duas semanas, mostrou que a aprovação da gestão de Lula subiu de 33% para 36% em relação a maio, enquanto a desaprovação caiu de 33% para 30%. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

A turnê, no entanto, já causou constrangimentos ao presidente. No início do mês, Lula foi cobrado por um estudante durante a entrega de uma obra inacabada no campus de Osasco da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A obra, anunciada por ele em 2008, foi inaugurada recentemente, mas ainda não está concluída.

— Depois de quatro anos de espera, finalmente estamos presenciando a inauguração oficial de apenas metade de um novo campus da Unifesp. Ainda nos faltam o auditório, o prédio da biblioteca, a quadra e os anfiteatros — disse a estudante de Direito Jamily Assis ao discursar no evento.

A Unifesp afirmou em nota que a obra do campus compreende dois edifícios: um principal, que está concluído, e outro que contém a biblioteca, ainda não finalizado. O atual governo destinou R$ 18 milhões para a obra, o que representa 17,6% dos R$ 102 milhões investidos, de acordo com dados da universidade.

No dia anterior, Lula esteve em Campinas (SP) para a entrega das obras do BRT, cuja construção começou em 2014. Apenas 1,6% dos R$ 380 milhões investidos foram direcionados pela gestão atual, enquanto 77,3% da verba foi indicada no governo Bolsonaro, entre 2019 e 2022, segundo a prefeitura de Campinas.

— O povo de Campinas tem que saber que essas coisas que foram anunciadas hoje têm dinheiro do governo federal, da Caixa, do BNDES… E vai ter mais. Na hora em que tivermos projeto contundente, podemos saber que o governo federal virá aqui e em outras cidades — disse Lula na apresentação.

Situação semelhante ocorreu em Feira de Santana (BA). O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) anunciou a entrega da duplicação de uma rodovia em que o atual governo foi responsável por destinar R$ 136 milhões, menos de 30% do valor total investido no trecho, segundo dados do órgão. Em outubro de 2022, o próprio Dnit anunciou que já havia construído 35 milhas de pistas novas — faltando pouco para concluir as 40,3 milhas previstas. De acordo com o Dnit, a gestão petista “retomou investimentos na infraestrutura rodoviária” e “deu continuidade à execução da duplicação”.

Ao GLOBO, o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins (MDB), afirmou que a maior parte da obra foi realizada e entregue na gestão passada. Ele esteve na inauguração feita pelo governo no início do mês e foi defendido por Lula quando vaiado. Também estava presente o deputado federal Zé Neto (PT), pré-candidato a prefeito da cidade.

— O governo Bolsonaro inaugurou uma parte grande dessa ligação. Conseguiu um viaduto, concluído em janeiro do ano passado, e mais três viadutos que foram inaugurados pelo presidente Lula — disse Martins.

Outra obra inaugurada com a presença de Lula na Bahia foi o Hospital Estadual Costa das Baleias, em maio. A unidade teve investimento de R$ 200 milhões, 100% da gestão local, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde. Houve, segundo o governo baiano, investimento da União apenas para o serviço de radioterapia, que ocorre em outro prédio, mas foi incorporado pelo hospital, cuja implantação custou R$ 12 milhões.

Em fevereiro, Lula esteve no Rio para inaugurar o Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado, construído no local da antiga Arena Carioca 3, inaugurada em 2016 para os Jogos Olímpicos. O presidente foi acompanhado de ministros e do prefeito Eduardo Paes (PSD), que disputará a reeleição com o apoio do PT. A obra, que custou R$ 33 milhões, foi realizada exclusivamente com recursos da prefeitura.

No mesmo mês, o presidente voltou ao Rio para participar da inauguração do Terminal Intermodal Gentileza ao lado do prefeito. A intervenção, iniciada em 2022, custou quase R$ 300 milhões, sem verbas federais. A Companhia Carioca de Parcerias e Investimentos, responsável pela obra, informou que a construção “foi realizada por meio de um termo aditivo à parceria público-privada (PPP) do VLT e sem qualquer repasse federal”.

— Eduardo (Paes), parabéns. Agora pare de me pedir dinheiro. Quando vejo esse cara chegando em Brasília, já inventei que estou viajando para não ter que recebê-lo — brincou Lula com o aliado.

Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) afirmou que o governo tem atuado para retomar obras que foram “abandonadas ou paralisadas nos governos anteriores”. A Secom reconheceu os casos em que a conclusão estava próxima antes de Lula assumir, mas ponderou que “sem a intervenção” do atual governo “correriam o risco de se tornar obras inacabadas e inúteis”.

Sobre as obras inauguradas, a Secom justificou que, no caso da rodovia em Feira de Santana, a obra foi contratada em 2014, mas “o orçamento foi alocado em ritmo lento” e só em 2023 “a execução foi intensificada”. Já em relação ao ginásio instalado na Arena Carioca 3, a pasta disse que o equipamento integra o legado dos Jogos Olímpicos de 2016 e que sua inauguração “faz parte de um conjunto de destinos de equipamentos”. A respeito do Terminal Gentileza, a Secom afirmou que ele conecta o BRT Transbrasil e os VLTs do Centro do Rio, e que ambos integram o pacote de obras de mobilidade do governo. Já sobre o BRT de Campinas, a secretaria disse que a obra foi contratada em 2014, com financiamento federal.

Em relação ao hospital estadual na Bahia, a Secom afirmou que ele integrará o SUS e também contará com recursos federais na prestação de serviços. Quanto ao campus da Unifesp, a Secom ressaltou que o prédio principal está pronto e que a autorização de obra foi dada em maio de 2016.

A agenda de inaugurações do presidente inclui:

  • Ginásio Educacional Olímpico Isabel Salgado: Inaugurado no Rio de Janeiro em fevereiro, com recursos exclusivamente da prefeitura carioca.
  • Duplicação da BR-116 (BA): Inaugurado um trecho da rodovia entre Feira de Santana e Santa Bárbara, com menos de 30% do investimento total vindo do governo atual.
  • Terminal Intermodal Gentileza: Inaugurado na Zona Portuária do Rio de Janeiro, com recursos exclusivamente da prefeitura.
  • Hospital Estadual Costa das Baleias: Inaugurado em maio na Bahia, com recursos exclusivamente estaduais.
  • Novos prédios da Unifesp: Inaugurados em Osasco, com menos de 20% dos recursos investidos pela gestão atual.
  • BRT em Campinas: Inaugurado na semana passada, com apenas 1,6% dos recursos investidos pela gestão atual e 77,3% financiados durante o governo Bolsonaro.

Com informações, O Globo.

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