O diretor de pesquisa macroeconômica para América Latina do banco americano Goldman Sachs, Alberto Ramos, afirma que a mudança das metas fiscais na semana passada reflete o desejo do governo de aumentar os gastos para estimular a economia, confirmando as preocupações do mercado sobre a credibilidade das metas apresentadas pelo Ministério da Fazenda.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Ramos alerta para o risco de uma revisão na meta de 2024, que atualmente visa um déficit zero, e até mesmo na meta de 2025, que foi alterada de um superávit de 0,5% do PIB para um resultado neutro. Ele destaca que essa incerteza fiscal tem impacto negativo no rating soberano do Brasil.
Ramos ressalta que a questão fiscal, juntamente com o baixo crescimento potencial da economia e da produtividade, são fatores que podem retardar a obtenção do grau de investimento.
Quanto à possibilidade de alterações nas metas fiscais deste ano e do próximo, Ramos aponta que ainda existe essa chance, destacando que as receitas podem estar superestimadas e os gastos subestimados. Ele enfatiza que essas revisões comprometem a credibilidade fiscal do país e alerta para a necessidade de responsabilidade do governo na gestão dos gastos públicos.
Em relação à política monetária, Ramos comenta que o Banco Central pode ter que interromper o ciclo de cortes na taxa Selic, que atualmente está em dois dígitos, devido à inflação acima da meta, expectativas desancoradas, mercado de trabalho pressionado e estímulos fiscais contínuos. Ele ressalta que a reprecificação global dos ativos e a incerteza fiscal são fatores que afetam as decisões do BC.
Sobre o próximo presidente do Banco Central, Ramos argumenta que uma transição para um perfil mais dovish poderia ser arriscada, levando a condições financeiras mais apertadas e menos crescimento econômico. Ele destaca a importância de manter a cautela e a responsabilidade na condução da política monetária.
