Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou sua decisão sobre a taxa Selic para os próximos 45 dias. Embora a decisão não tenha surpreendido grande parte do mercado, as políticas econômicas atuais estão construindo uma narrativa que remete a um passado recente de estagnação e crise. O cenário atual tem semelhanças com a “nova matriz econômica” implementada durante o governo de Dilma Rousseff e Guido Mantega, que resultou em uma das maiores crises econômicas do Brasil.
Naquela época, o governo apostou no estímulo ao consumo desenfreado, tanto público quanto privado, como motor do crescimento econômico. Houve incentivos para a compra de bens de consumo, como automóveis e eletrodomésticos, enquanto os gastos do governo também foram elevados. Esse modelo trouxe um crescimento aparente entre 2010 e 2013, apoiado por fatores externos, como a alta demanda por commodities. Contudo, o crescimento não se sustentou, e, em 2014, o PIB começou a encolher, culminando em uma crise econômica entre 2015 e 2016.
O erro fundamental dessa política era sua dependência excessiva do consumo, ignorando a necessidade de investimentos e poupança para sustentar o crescimento no médio e longo prazo. Sem investimento na produção e infraestrutura, a economia perde fôlego. Esta foi a “receita de fracasso” que levou o país a uma de suas piores crises econômicas.
Agora, em 2024, o Brasil parece estar repetindo o mesmo erro. O crescimento de 1,4% no segundo trimestre foi impulsionado principalmente pelo consumo, tanto das famílias quanto do governo. O problema é que a formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos que aumentam a capacidade produtiva do país, continua abaixo do ideal, limitando o crescimento de longo prazo.
Os economistas alertam que esse modelo de crescimento baseado no consumo é insustentável. Ele pressiona a inflação e, em resposta, o Banco Central pode ser forçado a aumentar os juros para conter a alta dos preços, o que acaba inibindo ainda mais os investimentos. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já explicou que a inflação é agravada quando os salários sobem sem um correspondente aumento na produção, o que Lula distorceu para criticar a posição do BC.
Em resumo, o governo atual está apostando em um crescimento de “baixa qualidade”, semelhante ao que já se viu no passado. A ênfase no consumo em detrimento do investimento e da poupança pode, mais uma vez, gerar inflação e juros altos. O Brasil corre o risco de colher os mesmos frutos amargos que plantou na década passada, repetindo uma receita de fracasso que já se mostrou desastrosa.