Os cortes orçamentais de emergência na França, implementados em meados de fevereiro para manter o curso de redução do déficit, parecem ser apenas o começo de uma série de medidas, deixando o governo lutando para conciliar as exigências financeiras com as realidades políticas.
Este momento para mais cortes não poderia ser mais inoportuno, com a revisão anual do orçamento da União Europeia, atualizações das agências de classificação de crédito e eleições parlamentares da UE previstas para os próximos três meses, nas quais a direita francesa provavelmente terá um bom desempenho.
O Ministro das Finanças francês, Bruno Le Maire, trouxe más notícias na quarta-feira (6), indicando que o déficit orçamentário do setor público do ano passado, provavelmente será pior do que o esperado.
Isso vem logo após o anúncio, em meados de fevereiro, de cortes orçamentários de 10 bilhões de euros, necessários para manter os planos de redução do déficit do governo em andamento, diante de um crescimento mais fraco do que o esperado.
“Por muito tempo, os gastos públicos foram a solução para todos os nossos problemas. Agora, eles correm o risco de se tornar um problema para todos nós”, disse Le Maire ao comitê de finanças do Parlamento.
O ministério agora projeta que a segunda maior economia da zona do euro, cresça apenas 1% este ano, em vez dos 1,4% previstos, visando um déficit orçamentário de 4,4% da produção econômica este ano.
Le Maire sugeriu que o déficit público para 2023, ficará “significativamente acima” da meta de 4,9%, tornando a meta deste ano irrealista sem medidas adicionais de austeridade.
“Existem duas possibilidades: ou revisar os planos de redução do déficit ou encontrar mais economias”, disse o economista Charles-Henri Colombier.
Le Maire enfatizou a necessidade de cumprir o objetivo de reduzir o déficit para menos de 3% da produção até 2027 e alcançar um orçamento equilibrado até 2032.
O governo enfrenta a difícil tarefa de enviar planos anuais de redução do déficit aos parceiros da UE no próximo mês, enquanto as agências de classificação atualizam suas classificações em abril e maio.
O governo também quer evitar novos cortes antes das eleições parlamentares da UE em junho, com a direita liderando nas pesquisas.
Marine Le Pen, líder da direita, criticou o governo por não adotar medidas mais profundas para controlar os gastos, destacando a imigração e a fraude social como áreas para redução de despesas.
Porém, o governo também busca evitar uma queda nas classificações de crédito, especialmente da S&P, que tem a França em perspectiva negativa e atualizará sua classificação antes da votação.
“Os anúncios recentes tornam cada vez mais provável um rebaixamento”, disse Colombier.
Os cortes orçamentais afetarão uma variedade de áreas, como subsídios para renovações energéticas de casas, ajuda ao desenvolvimento, pesquisa pública e formação profissional.
Entretanto, os 10 bilhões de euros em cortes, podem ser parcialmente compensados por despesas inesperadas, como apoio aos agricultores e à Ucrânia.
Essa situação pode exigir uma nova legislação orçamentária para 2024, já em meados do ano, enquanto o governo busca mais economias para o orçamento de 2025.
O Ministro do Orçamento, Thomas Cazenave, disse aos legisladores na quarta-feira (6), que as economias necessárias para 2025 estavam agora mais próximas de 20 bilhões de euros, em vez dos 12 bilhões planejados anteriormente.
Quaisquer cortes futuros provavelmente afetarão despesas sociais e governos locais, que foram até agora poupados.
Le Maire está pressionando por benefícios de desemprego mais robustos, enquanto os economistas sugerem aumentar os pagamentos de pensões, mesmo que seja politicamente impopular.
“Devemos deixar para trás a exceção francesa de não conseguirmos reduzir os gastos”, disse Le Maire.
