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Cardeal revela práticas chocantes da Quaresma que vão contra os dogmas da fé

Por Marina B.


Nesta sexta-feira, 23 de março, o Cardeal Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, deu início à série de pregações da Quaresma. Na Sala Paulo VI, sua primeira reflexão concentrou-se na passagem do Evangelho em que Jesus afirma aos discípulos: “Eu sou o Pão da Vida” (cf. João 6,35).

Ao iniciar sua pregação, o cardeal retomou o diálogo entre Jesus e os discípulos na região de Cesareia de Filipe, quando o Senhor perguntou quem os homens diziam ser ele. Depois, ao questionar aos próprios discípulos quem ele era, Simão Pedro respondeu “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (cf. Mateus 16,13-16).

Concentrando-se na segunda pergunta feita por Jesus, o cardeal apontou para a dimensão individual dela, dirigida também a cada fiel e de forma pessoal. Para contribuir com essa reflexão sobre quem é Jesus, Cantalamessa sinalizou cinco autorrevelações feitas pelo próprio Cristo, contidas no Evangelho de João, que serão exploradas durante a Quaresma.

O Pão da Vida

A primeira delas foi a afirmação “Eu sou o Pão da Vida”. Ela foi dita por Jesus após a multiplicação dos pães, quando, após se retirar devido ao entusiasmo do povo, foi seguido pela multidão. Enquanto começava a ensinar sobre o “sinal do pão”, explicando que há um outro tipo de alimento a ser buscado que não o material, foi perguntado que tipo de pão seria esse.

Neste contexto, ao lembrar dos antepassados que comeram o maná no deserto após a fuga do Egito, Jesus disse que não fora Moisés quem deu aquele pão, mas Deus, que dá o verdadeiro “pão do céu”, “aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”. Diante disso, ele concluiu sua fala declarando: “Eu sou o Pão da Vida. Quem vem a mim nunca mais terá fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede” (cf. João 6,30-35).

Como e onde alimentar-se do Pão da Vida

Diante disso, o Cardeal Cantalamessa propôs o questionamento sobre como e onde é possível alimentar-se desse pão, e apresentou dois “lugares” ou “modos”: a Eucaristia e a Escritura. Ele citou Tomás de Kempis, que em “A Imitação de Cristo” expressa que “sem estas duas coisas, não poderia bem viver; porque a palavra de Deus é a luz da minha alma e vosso Sacramento o pão da vida”.

O capuchinho chamou a atenção para a divisão ocorrida no cristianismo ocidental, em que os católicos dão ênfase à Eucaristia, ao passo que os protestantes afirmam que o Pão da Vida é a Palavra de Deus. Contudo, “o clima ecumênico que se instaurou entre os fiéis em Cristo nos permite recompor a síntese tradicional presente”, afirmou Cantalamessa.

Se na exegese e na teologia ocorre às vezes uma polarização, observou, a liturgia sempre manteve uma síntese pacífica, representada na Missa, que desde os tempos antigos, tem duas partes: a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Referindo-se a São Paulo, que escreveu “para mim, de fato, o viver é Cristo” (cf. Filipenses 1,21), o pregador enfatizou que o Apóstolo dos Gentios não pensou em um momento particular, mas em todos os modos da presença de Jesus em sua vida.

“Jesus é pão de vida eterna não só pelo que dá, mas também – e antes de tudo – pelo que é. A Palavra e o Sacramento são os meios; viver dele e nele é o fim”, ressaltou o cardeal. Na sequência, citou que o Evangelho apresenta duas operações a realizar, sempre em ordem: primeiro, a apropriação, depois, a imitação. Assim, Cantalamessa afirmou que “temos nos apropriado até agora do pão da vida mediante a fé e o fazemos cada vez que recebemos a Comunhão. Trata-se de ver agora como traduzi-los na prática em nossa vida”.

Mortificações

Para isso, ele propôs uma reflexão sobre como Jesus se tornou o Pão de Vida para os homens. O cardeal apontou para a resposta dada pelo próprio Cristo, ao expressar que “se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas se morre, produz muito fruto” (cf. João 12,24)”.

“Sabemos bem a que aludem as imagens de cair na terra e apodrecer. Toda a história da Paixão está contida nelas. Devemos buscar ver o que essas imagens significam para nós. Jesus, de fato, com a imagem do grão de trigo não indica apenas o seu destino pessoal, mas o de cada seu verdadeiro discípulo”, declarou o capuchinho.

Ele abordou a realidade da vida em comunidade, retomando uma expressão que afirma que “viver em comunidade é a maior de todas as mortificações”. O pregador expressou que esta não é uma realidade exclusiva das comunidades religiosas, apontando também para as realidades do matrimônio e do trabalho da Cúria.

Deixar-se moer

Além disso, sinalizou duas ocasiões de prova neste âmbito: aceitar ser contrariado, renunciando ao desejo de querer sempre ter razão, e suportar alguém que seja irritante. “O que é mais difícil para ‘moer’ em nós não é a carne, mas o espírito, isto é o amor próprio e o orgulho, e estes pequenos exercícios servem magnificamente ao objetivo”, afirmou.

Cantalamessa pontuou que o objetivo do “deixar-se moer” não é apenas ascético, mas também místico, uma vez que “não serve tanto mortificar a si mesmo, mas para criar a comunhão”. Ele recordou Santo Agostinho, que comparou o processo que leva à produção do pão ao que leva à formação do corpo místico de Cristo, que é a Igreja.

“Entre os dois corpos, o eucarístico e o místico da Igreja, não há apenas semelhança, mas também dependência. É graças ao mistério pascal de Cristo operante na Eucaristia que nós podemos encontrar a força de nos deixar moer, dia após dia, nas pequenas – e às vezes nas grandes – circunstâncias da vida”, afirmou o cardeal.

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