Os protestos dos agricultores também encontraram eco no Parlamento Europeu, reunido em sessão plenária na cidade francesa de Estrasburgo. Enquanto lá fora se ouviam queixas sobre leis que supostamente prejudicam sua competitividade, dentro ocorria um debate sobre a Política Agrícola Comum (PAC).
“Sim, é verdade que recebemos subsídios da Europa, mas é absurdo o modo como trabalhamos. Preferimos ganhar a vida decentemente com nossas vendas, do que depender de subsídios”, disse um agricultor à euronews.
A PAC, que recebe uma das maiores fatias do orçamento da União Europeia, distribui subsídios para o setor. O atual orçamento plurianual do bloco é de 1,2 trilhões de euros, dos quais quase um terço, ou cerca de 400 bilhões de euros, é destinado à PAC.
O ex-comissário europeu da Agricultura e atual eurodeputado Dacian Ciolos, da Romênia, argumentou que o sistema atual está ultrapassado e defendeu uma reforma que liberte o setor da “dependência de subsídios”.
“O problema está na forma como o dinheiro é distribuído. Na minha opinião, os pagamentos diretos que vêm sendo feitos há décadas não atendem às necessidades sociais relacionadas com as atividades agrícolas. Se perguntarmos aos agricultores, eles não querem mais subsídios, mas sim preços justos para sua produção”, afirmou à euronews.
Por sua vez, Philippe Lamberts, co-líder da bancada dos Verdes, da Bélgica, destacou que 80% dos subsídios vão para grandes grupos da indústria agropecuária, em vez de pequenos agricultores.
Lamberts argumentou que esses produtores não recebem uma remuneração justa, devido à pressão das cadeias de varejo: “Essas pessoas estão sendo prejudicadas. Se quisermos mudar isso, precisamos primeiro reformar a estrutura do mercado e limitar o poder tanto dos fornecedores quanto, especialmente, dos grandes varejistas e da indústria agrícola”.
“Somente então os verdadeiros agricultores poderão viver de seu trabalho. Eles também devem ser recompensados pela PAC por todos os serviços que prestam à sociedade, como a recuperação da qualidade da água, da biodiversidade e do solo, serviços que não podem ser vendidos”, acrescentou.
Por outro lado, a bancada conservadora argumenta que a PAC prejudica a boa regulação do mercado. Um dos eurodeputados citou o exemplo de seu país: “Os agricultores tchecos estão constantemente pedindo a abolição de todos os subsídios. Estamos prontos para competir, mas com uma concorrência justa”, disse Alexandr Vondr.
Embora a PAC deva ser aplicada até 2027 no âmbito do atual orçamento da UE, espera-se que o tema permaneça em destaque devido às eleições europeias de junho.