O número de recuperações judiciais no Brasil continua a aumentar. O ano de 2023 encerrou com 4.045 empresas efetivamente em processo de reestruturação, um índice considerado elevado por especialistas e um recorde no volume de pedidos. Durante o ano, foram registrados 1.405 pedidos, representando um aumento de quase 70% em relação a 2022.
Esse é o quarto índice mais alto de pedidos desde o início da série histórica em 2005, conforme registrado pela Serasa Experian, e o maior volume desde 2020, equiparado aos anos de 2012, 2018 e 2019. Micro e pequenas empresas lideraram a busca, com 939 delas, enquanto 135 grandes companhias recorreram ao Judiciário.
O economista Luiz Rabi, da Serasa Experian, destaca o surpreendente aumento no índice de recuperações judiciais no Brasil, atribuindo-o ao crescimento da inadimplência, que atingiu um recorde histórico no ano passado. Em outubro, último dado disponível sobre inadimplência, havia 6,6 milhões de empresas endividadas, totalizando R$ 125,8 bilhões em dívidas.
Atualmente, duas a cada mil empresas em atividade estão em recuperação judicial, com base em 2,19 milhões de matrizes de pequeno, médio e grande porte, de acordo com os dados do Monitor RGF de Recuperação Judicial, desenvolvido pela consultoria RGF & Associados, excluindo microempresas.
O número de empresas em processo de reestruturação aumentou em 173 no quarto trimestre de 2023, saindo de 3.872 para 4.045. O estoque no final do primeiro semestre já era considerado alto, chegando a 3.823 processos.
Os setores com os maiores índices de recuperação judicial, conforme o Monitor RGF, incluem cultivo de cana-de-açúcar, construção de rodovias e ferrovias, fabricação de laticínios, transporte rodoviário coletivo de passageiros, e fabricação de máquinas e equipamentos para agricultura e pecuária, exceto para irrigação.
O aumento no número de empresas em recuperação é atribuído, em parte, à alta taxa de juros, conforme destacado por Rodrigo Gallegos e Roberta Gonzaga, da RGF. As empresas se endividaram durante o período de juros baixos, e a atual taxa Selic de 11,25% dificulta a negociação de dívidas.
Especialistas apontam que a explosão em 2023 é, em parte, resultado da demanda reprimida da pandemia da covid-19. A crise foi adiada com renegociações de prazos pelos bancos, mas o alto endividamento persiste como um problema fundamental.