A onda de protestos dos agricultores que se estende por diversos países europeus, pode representar um golpe fatal para o acordo de livre comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, um bloco regional composto pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Entre as queixas dos agricultores franceses e belgas, que atualmente protestam nas ruas, destaca-se a alegada concorrência desleal de produtos agrícolas importados de regiões com regulamentações menos rigorosas, como as do Mercosul (na América do Sul), com o qual a UE negocia há duas décadas.
Simon Ecrepent, um agricultor belga em protesto, afirmou: “Temos tudo o que precisamos para produzir em nosso país, mas estamos sendo forçados a não produzir para poder importar do exterior, onde as regras são piores em comparação com as nossas. Isso nos cria obstáculos e é realmente impossível continuarmos a trabalhar dessa forma.”
O presidente francês, Emmanuel Macron, solicitou à Comissão Europeia que interrompesse o processo de negociação, argumentando que “é impossível concluir as negociações neste momento”. Um funcionário do governo francês indicou que a Comissão Europeia, instruiu seus negociadores a encerrar as sessões de negociação no Brasil, em resposta aos protestos dos agricultores em todo o continente.
As discussões entre Macron e a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, devem abordar essa questão durante a cúpula de líderes da UE na quinta-feira (01/02).
Embora a Comissão Europeia tenha reconhecido as dificuldades, ela não encerrou o diálogo, afirmando que as discussões continuam, e que a UE está comprometida em alcançar um acordo que respeite os objetivos de sustentabilidade e as sensibilidades, especialmente no setor agrícola.
O acordo enfrenta resistência de alguns países, como Áustria, Bélgica, Irlanda e Países Baixos, enquanto Portugal e Espanha se mostram mais entusiásticos. Além disso, obstáculos políticos do outro lado do Atlântico, como a vitória eleitoral do libertário de direita, Javier Millei, na Argentina, também geram preocupações em Bruxelas, que continua a insistir na busca de um acordo, apesar das incertezas.