Em um editorial contundente, o jornal O Globo classificou como ilógicos e prejudiciais os ataques feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo Partido dos Trabalhadores (PT) ao Banco Central (BC) e à sua política monetária. O texto aponta que, enquanto o governo insiste em criticar os juros altos, ignora que a disparada do dólar, dos juros e da desconfiança no mercado tem raízes no próprio desdém petista pela gravidade da crise fiscal.
Cenário econômico e críticas do governo
Lula retomou suas críticas ao Banco Central em recente entrevista, chamando a taxa de juros de “a única coisa errada neste país”. Segundo ele, a inflação está “totalmente controlada” e não justificaria os aumentos das taxas pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
Contudo, O Globo rebate esse discurso, afirmando que a inflação está longe de estar controlada e que as previsões apontam índices acima da meta tanto neste ano quanto no próximo. Assim, o BC precisa agir para conter a deterioração das expectativas inflacionárias, agravada pelas declarações e posturas do governo.
“Nova política monetária” proposta pelo PT
A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, também entrou no debate ao sugerir uma “nova política monetária” que não se sujeite ao que chamou de “chantagens e oportunismo financista”. Sua proposta inclui mudanças na forma como as expectativas inflacionárias são medidas.
O editorial critica essa sugestão, comparando-a a trocar um termômetro funcional por outro pior na tentativa de ignorar a gravidade da febre. Para o jornal, a insistência em desafiar fundamentos econômicos sólidos eleva ainda mais o custo que recairá sobre os brasileiros.
Mudanças no Banco Central e autonomia
A troca na presidência do BC, com Gabriel Galípolo assumindo o lugar de Roberto Campos Neto, também é mencionada. O texto avalia que, embora Lula e aliados tentem pressionar o novo comando, as decisões do Copom têm sido unânimes e seguem a lógica técnica da autonomia do BC, algo que não deve mudar.
Lições não aprendidas
O O Globo aponta paralelos com os erros do governo Dilma Rousseff, marcado por políticas insustentáveis de crescimento via crédito barato e gastos públicos descontrolados. A relação dívida pública/PIB no atual governo Lula deve aumentar 14 pontos percentuais, destacando a necessidade urgente de um ajuste fiscal robusto para conter a alta do dólar e da inflação.
O editorial conclui com um tom crítico e provocador, questionando se, diante do cenário de descontrole cambial e econômico, o PT estaria disposto a fazer uma autocrítica semelhante àquela que cobrou do governo Bolsonaro em situações semelhantes.