A jornalista e analista política da GloboNews, Eliane Cantanhêde, gerou repercussão ao criticar a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de não transferir temporariamente o cargo para o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) durante seu período de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O caso ocorreu no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, onde Lula passou por uma cirurgia no cérebro sob anestesia geral.
Para Cantanhêde, é “esdrúxulo” que um chefe de Estado permaneça no cargo em circunstâncias tão delicadas, especialmente quando está incapacitado temporariamente por procedimentos médicos invasivos.
– “É esdrúxulo que um presidente da República que está na UTI, que toma anestesia geral e que está fazendo cirurgia na cabeça continue ocupando o cargo”, afirmou a analista durante a edição de quinta-feira (12) da Central GloboNews.
A Questão Constitucional e o Precedente Histórico
Cantanhêde defendeu que, em situações como essa, o mais adequado seria o presidente passar a liderança temporariamente ao vice, algo previsto na Constituição. Ela lembrou episódios históricos, como o caso de Tancredo Neves, para apontar a importância da transparência sobre a saúde de líderes políticos e a necessidade de preservar a estabilidade institucional.
Segundo a analista, o Brasil vive hoje um momento de estabilidade, o que torna ainda mais viável a transferência de poder sem que isso gere alarmismo na sociedade ou comprometa o funcionamento do governo.
– “A gente está vivendo uma estabilidade institucional. Não é como o Tancredo Neves ficar doente, mentir, dizer que não é nada”, explicou Cantanhêde, referindo-se à crise gerada pela falta de informações sobre o estado de saúde do então presidente eleito em 1985.
A Perspectiva de Janja
A jornalista também refletiu sobre o possível papel da primeira-dama, Janja da Silva, na decisão de Lula de não transferir o cargo. Para Cantanhêde, pode ter havido receio de que o ato fosse interpretado como um sinal de gravidade maior na saúde do presidente.
– “Tudo bem, a Janja pode até ter pensado: ‘Ih, vão achar que é mais grave’, ‘Ih, pode dar algum problema’. Mas, constitucionalmente, não faz sentido um presidente da República em uma mesa de cirurgia com a cabeça sendo operada com anestesia geral seguir na função”, destacou.
O Debate sobre Transparência e Liderança
A fala de Cantanhêde levanta um debate sobre os limites da transparência e a necessidade de clareza no exercício do poder. Críticos da decisão apontam que a recusa de Lula em transferir o cargo pode abrir precedentes que fragilizam a percepção pública sobre a liderança em momentos de vulnerabilidade.
Por outro lado, aliados do presidente argumentam que a manutenção do cargo reforça a confiança na recuperação de Lula e evita interpretações alarmistas sobre sua capacidade de governar.
A questão, que divide opiniões, evidencia a importância de se discutir protocolos claros para a gestão do poder em momentos de saúde fragilizada, visando garantir a continuidade do governo e a confiança da população.