O presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, afirmou na segunda-feira que a política monetária está sendo, em certa medida, influenciada pela política fiscal, à medida que os prêmios de risco nas taxas de juros de longo prazo aumentam devido a preocupações com a trajetória da dívida do país.
“Não acredito que a situação fiscal do Brasil seja um desastre iminente”, disse ele durante um evento em São Paulo promovido pela Consulting House, acrescentando: “Podemos ajustar a rota, se necessário.”
Campos Neto afirmou que o Brasil possui “várias ferramentas e uma grande capacidade para implementar um choque fiscal positivo e reverter a situação”, mas ressaltou que o momento de anunciar essas medidas é “extremamente importante”.
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de orientação esquerdista, sinalizou que pretende adotar novas medidas fiscais para fortalecer a estrutura fiscal estabelecida no ano passado. No entanto, as preocupações de que o aumento acelerado das despesas obrigatórias possa tornar essa nova estrutura insustentável no curto prazo geraram volatilidade nos mercados locais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia indicado que essas medidas poderiam ser anunciadas na semana passada, mas o adiamento gerou incertezas no mercado, o que contribuiu para o aumento das taxas de juros de longo prazo e a desvalorização do real.
Campos Neto afirmou que um choque fiscal positivo teria um grande impacto nos mercados, caso alterasse a perspectiva sobre a trajetória da dívida pública do Brasil.
Ele também comentou que há uma percepção de uma possível desaceleração na atividade econômica, mas sem evidências substanciais que confirmem essa tendência.
Os formuladores de políticas econômicas destacaram o desempenho melhor do que o esperado da maior economia da América Latina como um fator crucial para a decisão de iniciar o ciclo de aperto monetário em setembro, mesmo quando economias avançadas estavam adotando políticas monetárias mais flexíveis.
Nas atas da última reunião do Banco Central, quando a taxa de juros foi aumentada em 50 pontos-base para 11,25%, foi notado que começaram a surgir os primeiros sinais de moderação em indicadores como comércio e lucros. No entanto, os formuladores de políticas ressaltaram que isso não indicava uma mudança significativa no mercado de trabalho ou no crescimento econômico.