A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, confirmada nesta quarta-feira (6), gerou um impacto significativo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e nas forças de esquerda brasileiras, que passaram a encarar o resultado com grande apreensão. Para aliados do presidente Lula, o triunfo do republicano pode ter efeitos negativos sobre a política interna brasileira, ampliando as dificuldades para o governo petista.
Lula e do governo brasileiro
Em uma postagem na rede social X, Lula parabenizou Trump pela vitória, destacando a importância do respeito à democracia. “Meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada”, escreveu o presidente brasileiro. No entanto, apesar da cordialidade, não há expectativa de um contato direto entre os dois, especialmente após Lula ter manifestado publicamente apoio à candidatura de Kamala Harris, agora derrotada. Em entrevista à emissora francesa TF1+, Lula havia afirmado que o final do mandato de Trump, marcado por episódios como o ataque ao Capitólio, havia sido “impensável” para os Estados Unidos.
O recado da derrota para a esquerda brasileira
A vitória de Trump ocorre pouco após um ciclo de derrotas políticas enfrentadas pelo governo Lula e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), especialmente nas eleições municipais de 2024, onde o PT e seus aliados tiveram um desempenho abaixo do esperado. O analista político André Cesar, da Hold Assessoria, comentou que essa sequência de derrotas, agora acentuada pela vitória de Trump, intensifica o sentimento de declínio para a esquerda brasileira. “O governo Lula perdeu espaço e vai precisar mudar de estratégia. Mas não vejo margem para uma mudança substancial na postura da esquerda”, afirmou.
O crescimento da direita
A vitória de Trump não se limita ao impacto interno nos Estados Unidos, mas também tem um efeito global, especialmente no que diz respeito ao fortalecimento da direita em diversas partes do mundo. No Brasil, a ascensão de Trump é vista como parte de um movimento global em que a direita conservadora ganha mais força, o que pode influenciar as estratégias políticas locais. A direita brasileira, como o deputado André Janones (Avante-MG) reconheceu, se encontra em ascensão, enquanto a esquerda parece cada vez mais desconectada da realidade das mudanças políticas em curso.
“Cansei de dar murro em ponta de faca. A esquerda insiste em negar a realidade sobre o avanço da extrema direita”, escreveu Janones nas redes sociais, refletindo a frustração crescente com a incapacidade de resposta rápida às mudanças no cenário político global.
A perda de conexão com a população
Outro aspecto destacado por analistas políticos é a dificuldade da esquerda em se comunicar com as novas demandas do eleitorado, especialmente no que tange às questões econômicas. Leandro Gabiati, da Consultoria Dominium, ressaltou que, assim como ocorreu nos Estados Unidos, no Brasil a população também busca soluções práticas para problemas econômicos, como a inflação e os altos preços dos combustíveis. “A esquerda precisa repensar sua estratégia, pois o foco das campanhas deve ser nas preocupações reais da população, como poder de compra e emprego”, afirmou Gabiati.
Impactos na agenda internacional de Lula
A vitória de Trump também ameaça enfraquecer a agenda internacional do governo Lula, que vinha tentando se destacar, especialmente nas pautas de mudança climática e na tributação de super-ricos. Durante a gestão Biden, o Brasil recebeu aportes significativos para o Fundo Amazônia, mas Trump já demonstrou disposição para cortar esse tipo de financiamento, que frequentemente está atrelado a projetos de ONGs controversas para o governo brasileiro.
Trump, que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris em seu primeiro mandato, provavelmente adotará uma postura ainda mais rígida no que diz respeito ao financiamento de iniciativas ambientais internacionais. A esperança do governo Lula de usar a COP30, que ocorrerá no Brasil em 2025, como uma vitrine para sua liderança global também pode ser prejudicada, já que Trump poderia até optar por não enviar representantes dos EUA para a conferência.
Além disso, a tentativa de Lula de implementar a Plataforma de Investimentos em Transformação Climática e Ecológica, que visa atrair bilhões de dólares para o Brasil, pode ser gravemente afetada pela postura protecionista e cética de Trump em relação à agenda ambiental global.
Reflexos econômicos e mudança no mercado global
A vitória de Trump também traz um recado claro em relação à economia global. Analistas apontam que o crescente apoio à direita pode ser associado a uma valorização das políticas de mercado livre e da redução de impostos. Esse fenômeno já se reflete em várias partes do mundo, com líderes como o argentino Javier Milei, também de direita, ganhando força. “O fortalecimento da direita internacionalmente pode ter implicações para o Brasil, especialmente se considerarmos que esse movimento está atrelado à defesa de uma economia de mercado e liberdade econômica”, observou o economista Rui São Pedro.
No Brasil, isso pode acentuar a pressão sobre o governo Lula para adotar políticas mais alinhadas ao setor privado e à classe média, afastando-se das pautas identitárias e sociais que predominam na agenda de esquerda. Segundo o economista Fidelis Fantin, “os eleitores americanos perceberam que é necessário garantir a liberdade e valorizar a economia de mercado, e esse movimento pode se espalhar pelo resto do mundo”.
O reflexo internacional da vitória de Trump
A vitória de Donald Trump não é apenas um marco na política dos Estados Unidos, mas tem repercussões profundas para o Brasil, especialmente para o governo Lula e a esquerda brasileira. A ascensão da direita em todo o mundo, somada à crescente desconexão entre as demandas da população e a agenda política da esquerda, coloca o Brasil em um cenário de desafios tanto internos quanto internacionais. O impacto da vitória de Trump sobre a política brasileira deve ser sentido em diversas áreas, desde a economia até a política externa, exigindo do governo Lula uma adaptação rápida e uma reinterpretação de sua estratégia política e de comunicação.