Dólar Hoje Euro Hoje
terça-feira, 26 novembro, 2024
Início » Reunião dos BRICS na Rússia causa inquietação na Europa

Reunião dos BRICS na Rússia causa inquietação na Europa

Por Alexandre Gomes

O chinês Xi Jinping, o indiano Narendra Modi, o turco Recep Tayyip Erdoğan e, possivelmente, até o secretário-geral da ONU vão participar numa polémica reunião na Rússia de um grupo que ameaça diminuir o peso económico da UE.

Uma reunião alargada de economias emergentes, a decorrer em Kazan, na Rússia, está a causar nervosismo entre os decisores políticos da UE.

O clube, formado em 2009, inclui agora não só o Brasil, a China, a Índia, a Rússia e a África do Sul, membros originais cujo acrónimo originou o nome BRICS e cujos líderes Xi Jinping, Narendra Modi e Vladimir Putin se vão encontrar nos próximos dias.

A 1 de janeiro, o Egito, a Etiópia, o Irão, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos também se juntaram ao clube, criando um bloco que vale mais de 37% do PIB mundial e que está potencialmente em desacordo com outras instituições como o G7 e a NATO.

Mas a ameaça à atual hegemonia liderada pelos Estados Unidos não é imediata, defende Stewart Patrick, do Carnegie Endowmen

Força ou fraqueza na expansão?

“É um clube informal, que está unido sobretudo no sentido daquilo contra que se opõe”, nomeadamente uma ordem económica que sentem estar contra eles, diz Patrick, membro sénior do grupo de reflexão, à Euronews.

Com o comércio livre a esboroar-se, a invasão da Ucrânia e as tensões em Taiwan, as relações da UE com a China tornaram-se cada vez mais frágeis e com a Rússia entraram mais ou menos em colapso.

Mas o aumento do número de membros dos BRICS pode enfraquecer a aliança, defende Patrick.

“À medida que se vão juntando novos membros, a diversidade e a heterogeneidade vão tornar ainda mais difícil para os BRICS chegarem a visões do mundo e a políticas coerentes”, afirma.

“O conjunto parece realmente impressionante num grande mapa do mundo… mas em termos de unidade, penso que é aí que é preciso coçar a cabeça e olhar duas vezes”, acrescenta.

Com os rivais regionais China e Índia, o grupo já tinha algumas tensões internas. Os novos membros, como a Arábia Saudita e o Irão, são “historicamente inimigos mortais”, diz Patrick.

Presenças polêmicas

O potencial novo membro mais polémico é a Turquia, cujo Presidente Recep Tayyip Erdoğan também se desloca à Rússia.

O país tem o segundo maior exército da NATO e esteve historicamente alinhado com o Ocidente. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia deu recentemente a entender que a mudança geopolítica se deveu ao facto de a adesão à UE ter sido repetidamente rejeitada.

“Este é um exemplo de como a Turquia mostra que tem outras opções e alinhamentos diplomáticos”, diz Stewart. “Isto permite que Erdogan assuma o papel de defensor das potências emergentes e não se limite a estar em sintonia com o Ocidente.”

Mas é a presença de outro europeu que está a chamar mais a atenção.

António Guterres, ex-primeiro-ministro português e atual secretário-geral da ONU, parece estar presente, algo que o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano descreveu, num post no X, como “uma escolha errada que não faz avançar a causa da paz” e “prejudica a reputação da ONU”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Lituânia, Gabrielius Landsbergis, juntou-se ao coro, classificando a decisão de Guterres de “inaceitável”, numa publicação no X.

Podem existir razões legítimas para a visita de Guterres à Rússia, como a promoção de uma iniciativa de paz, mas Patrick é cauteloso.

“Pode ser visto como uma legitimação das políticas de Vladimir Putin… Não vejo muito interesse em que ele o faça”, afirma.

Para outros, a preocupação com os BRICS não é geopolítica, mas sim económica, dado o poder potencial de um bloco que é agora duas vezes e meia maior do que a UE do ponto de vista económico.

O antigo primeiro-ministro italiano Enrico Letta afirmou esta semana que a cimeira dos BRICS sublinhou a necessidade de a Europa unir forças e integrar as suas economias, justamente o tema de um relatório que elaborou no início deste ano.

O relatório de Enrico Letta, que tem como tema o reforço do mercado único da UE, foi apresentado aos eurodeputados na segunda-feira.

Você pode se Interessar

Deixe um Comentário

Sobre nós

Somos uma empresa de mídia. Prometemos contar a você o que há de novo nas partes importantes da vida moderna

@2024 – Todos os Direitos Reservados.