O sistema de pagamento proposto pelo Brics, que visa criar uma alternativa ao Swift, parece ter uma motivação mais política do que propriamente econômica, de acordo com a analista Débora Oliveira. Em uma análise para a CNN, ela destaca que, embora o bloco, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, agora com novos membros permanentes como Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos, tenha um peso significativo no cenário global — representando 31,5% do PIB mundial, 24,5% das exportações e 45,2% da população — grande parte dessa relevância vem dos membros originais, como Brasil, Índia e China.
Oliveira sublinha que o interesse em criar um sistema alternativo ao Swift, rede que facilita transações financeiras internacionais, surge, em grande parte, da necessidade de países como Rússia e China em fortalecer suas posições globais. A Rússia, por exemplo, está isolada economicamente em virtude das sanções impostas após a invasão da Ucrânia e busca alternativas para expandir seu comércio internacional. A China, por outro lado, busca promover sua moeda, o yuan, como uma alternativa ao dólar americano.
A analista observa que essa mudança tem implicações geopolíticas complexas, especialmente para países que decidirem se desvincular do sistema Swift e adotar a nova plataforma do Brics. Em particular, ela aponta para os riscos que podem surgir com uma eventual vitória de Donald Trump nas próximas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Trump já indicou que países que aderirem a sistemas alternativos ao dólar ou ao Swift poderiam enfrentar retaliações econômicas por parte dos EUA.
Essa situação coloca o Brasil em uma posição delicada, já que o país tem nos Estados Unidos seu segundo maior parceiro comercial. Embora o Brics ofereça oportunidades para maior integração entre economias emergentes, Oliveira alerta que o Brasil precisa considerar cuidadosamente as consequências de se alinhar com um sistema de pagamento alternativo que pode ser visto como uma afronta à hegemonia financeira dos EUA.
Em última análise, a expansão do Brics e a criação de uma plataforma de pagamento própria refletem um deslocamento do bloco em direção a uma agenda mais geopolítica, que atrai países com regimes autocráticos e aqueles sob sanções internacionais. O bloco, que originalmente foi idealizado como um fórum de cooperação entre potências industriais emergentes, agora parece seguir um caminho cada vez mais marcado por tensões políticas globais.