Funcionários do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) entraram em greve nesta terça-feira (15.out.2024) para protestar contra a transferência da Unidade Chile, no centro do Rio de Janeiro, para o bairro do Horto. A paralisação, que terá duração de 24 horas, reflete o descontentamento crescente com a gestão do instituto, especialmente sob o comando de Marcio Pochmann, indicado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A principal reivindicação dos trabalhadores, organizada pelo AssIBGE (Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE), é a permanência da unidade na Avenida Chile. A proposta de mudança para o prédio do Serpro, no Horto, foi considerada inaceitável pelos funcionários, que afirmam que o novo local é de difícil acesso, com poucas opções de transporte e uma caminhada de 15 minutos entre a parada de ônibus e o edifício. A falta de diálogo prévio com os trabalhadores sobre a mudança também é alvo de críticas.
Além da greve, um ato está programado para ocorrer em frente à Unidade Chile, às 9h desta terça-feira. Em suas redes sociais, o sindicato convocou a mobilização e criticou a falta de diálogo da gestão Pochmann, utilizando linguagem neutra na convocação, o que foi visto por muitos como uma tentativa de impor ideologias, alinhada à postura mais progressista do atual governo. “Não podemos permitir que decisões que impactam profundamente nossas vidas sejam tomadas sem diálogo! Precisamos de todos lá, firmes, unidos e prontos para lutar pelo que é justo”, dizia a postagem.
As críticas ao presidente do IBGE, Marcio Pochmann, não se restringem à mudança de localização. Os funcionários também apontam outras questões que agravam o clima de tensão dentro do órgão. Eles se posicionam contra o que consideram um “autoritarismo” na gestão atual, especialmente em relação à falta de consultas sobre a reformulação do estatuto do IBGE e a criação da Fundação IBGE+, que abriria caminho para parcerias com a iniciativa privada. Para o sindicato, essas medidas prejudicam a autonomia do órgão e afetam diretamente as condições de trabalho.
A gestão de Pochmann tem sido alvo de polêmicas desde que assumiu a presidência do IBGE em agosto de 2023. Um dos episódios mais criticados foi o lançamento de um mapa-múndi no 9º Atlas Geográfico Escolar, no qual o Brasil aparecia como centro do mundo. O atlas, no entanto, foi duramente criticado por uma série de erros geológicos, como a troca de mapas entre os períodos Jurássico e Cretáceo, o que levou o instituto a publicar uma errata. O episódio aumentou as críticas à gestão de Pochmann, que já era vista como ideologizada, dada sua ligação com a Fundação Perseu Abramo, o Instituto Lula e sua passagem pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), onde também foi criticado por implementar uma administração considerada mais política do que técnica.
A postura do governo Lula e de Pochmann tem gerado crescente insatisfação, com o IBGE se tornando mais um exemplo das tensões entre a visão ideológica do governo e as necessidades práticas do órgão. Para muitos críticos, essa condução política de um instituto essencial para a produção de dados e estatísticas no país compromete a credibilidade e a funcionalidade da instituição, prejudicando não só os funcionários, mas toda a sociedade que depende da qualidade das informações geradas pelo IBGE.
Além disso, o perfil heterodoxo de Pochmann, com visões contrárias ao Pix e às reformas trabalhista e previdenciária, reforça a percepção de que suas decisões estão mais alinhadas às pautas políticas do governo do que às necessidades reais de modernização e eficiência do instituto. Isso, somado à falta de diálogo com os funcionários e a tomada de decisões unilaterais, tem afastado ainda mais a gestão do IBGE de seus objetivos centrais e das expectativas dos trabalhadores.
Com uma greve já em andamento e o descontentamento crescendo, o futuro da gestão do IBGE sob Pochmann parece cada vez mais incerto, à medida que tanto funcionários quanto setores da sociedade civil demonstram seu descontentamento com o rumo do instituto.