A campanha lançada pela Confederação Nacional do Comércio (CNC) contra o aumento da dívida pública evidencia uma crescente insatisfação do setor empresarial com o governo Lula, especialmente no que tange à gestão das finanças públicas. Historicamente, os empresários sempre se queixaram da alta taxa de juros, atribuída ao Banco Central. Agora, o foco se desloca para o endividamento público, apontando o governo como responsável direto.
O aumento da dívida pública, que saltou de 71,7% para 78,6% do PIB desde o início do atual mandato, tem gerado grande preocupação. A CNC estima que cada 1% de aumento na dívida pública pode reduzir em 25% o crescimento do PIB per capita no longo prazo, um dado alarmante para uma economia que já sofre com crescimento lento. Ao se endividar mais, o governo onera ainda mais os cofres públicos com o pagamento de juros, perpetuando um ciclo de desequilíbrio fiscal.
A crítica da CNC não se restringe à dívida; ela também cobra uma reforma administrativa robusta. Segundo a entidade, os gastos obrigatórios do governo federal podem atingir 100% do orçamento em até cinco anos, pressionando a necessidade de aumento de arrecadação e, por consequência, mais inflação e juros elevados. A proposta de reforma inclui corte de distorções na máquina pública e a promoção de privatizações, concessões e parcerias público-privadas, uma agenda tipicamente defendida por setores liberais da economia.
Entretanto, o presidente Lula mantém uma visão oposta. Para ele, o Estado é o principal motor de desenvolvimento econômico, e seu governo planeja recompor o quadro de servidores que se aposentaram, ao invés de promover grandes reformas estruturais. O governo aposta em uma maior atuação estatal, via empresas públicas e administração direta, e prefere uma reforma administrativa mais modesta, focada em reorganização de carreiras e ajustes salariais.
Essa divergência de perspectivas reflete um impasse clássico entre visões liberais e desenvolvimentistas na política econômica brasileira. De um lado, o setor privado cobra a redução do papel do Estado, com mais espaço para o mercado liderar o crescimento; de outro, o governo Lula reforça seu compromisso com uma economia onde o Estado desempenha papel central.
A crítica da CNC, ao expor os perigos do aumento da dívida pública, coloca em evidência a necessidade de uma discussão mais profunda sobre a sustentabilidade fiscal do país. O endividamento crescente, combinado com a resistência do governo a reformas mais ambiciosas, pode resultar em uma crise de confiança no mercado, levando a juros ainda mais altos e, consequentemente, a um cenário de crescimento ainda mais limitado.
Essa tensão entre o setor privado e o governo se traduz em uma cobrança por medidas estruturantes que possam conter o endividamento, sem abrir mão de políticas sociais e de fomento econômico. A falta de diálogo e de um consenso claro sobre o caminho a seguir cria um ambiente de incerteza, onde a necessidade de reformas, seja no âmbito fiscal ou administrativo, se torna cada vez mais urgente.