O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil divulgou recentemente uma nota sobre o ataque iraniano que disparou cerca de 200 mísseis contra Israel. A manifestação, curta e protocolar, contrasta fortemente com a condenação enfática do Itamaraty em relação às operações israelenses no Líbano, evidenciando um tratamento desigual em um momento de crise internacional.
Na nota, o governo brasileiro expressou preocupação, mas evitou qualquer menção às vítimas ou à destruição de alvos civis causados pelo ataque. O texto, com apenas seis linhas, condena genericamente “a escalada do conflito” e faz um apelo por contenção, sem aprofundar-se nas consequências do ataque. A seguir, o trecho da nota:
“O governo brasileiro acompanha com preocupação o lançamento de cerca de 200 mísseis pelo Irã contra o território israelense, condena a escalada do conflito e renova seu apelo a todas as partes envolvidas para que exerçam máxima contenção. Reitera, ainda, sua convicção acerca de necessidade de amplo cessar-fogo em todo o Oriente Médio e conclama a comunidade internacional para que utilize todos os instrumentos diplomáticos à disposição a fim de conter o aprofundamento do conflito. A Embaixada em Tel Aviv continua a monitorar a situação dos nacionais em Israel, em contato permanente com os brasileiros no país, aos quais tem prestado orientações e assistência consular.”
Em contraste, ao se manifestar contra as operações israelenses no Líbano, o governo Lula foi muito mais incisivo. A longa nota de 18 linhas não apenas condenou as ações israelenses, como também citou explicitamente o número de mortos e feridos, referindo-se a uma tragédia humanitária em curso. O Itamaraty destacou:
“O governo brasileiro acompanha, com grave preocupação, a realização de operações militares terrestres do exército de Israel no Sul do Líbano, em violação ao direito internacional, à Carta da ONU e a resoluções do Conselho de Segurança. Também deplora a continuidade dos ataques aéreos israelenses a várias regiões do país, que provocaram, desde o passado dia 17, a morte de mais de 1000 pessoas, incluindo 2 adolescentes brasileiros e seus pais, assim como um saldo de milhares de feridos.”
Essa discrepância no tom e na ênfase das notas reflete uma clara falta de coerência na política externa brasileira. Enquanto o governo se posiciona vigorosamente contra as ações de Israel, sua resposta ao Irã parece ser uma tentativa de manter uma postura diplomática cautelosa, mesmo diante de um ataque tão agressivo e indiscriminado.
Essa abordagem do Itamaraty, que parece passar pano para o regime iraniano, levanta questões sobre a verdadeira disposição do Brasil em defender os direitos humanos e a segurança internacional. A falta de uma condenação clara e contundente ao ataque iraniano pode ser vista como uma capitulação a interesses geopolíticos, comprometendo a imagem do Brasil como um defensor da paz e da justiça.
Em um cenário global já fragilizado, a sociedade brasileira e a comunidade internacional devem questionar o governo sobre sua política externa e exigir uma postura que priorize não apenas a diplomacia, mas também a defesa intransigente dos direitos humanos e da integridade de todos os povos, independentemente de sua localização geográfica ou alinhamento político.
