Com a crescente tensão no Oriente Médio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva intensificou suas críticas a Israel, refletindo uma mudança significativa na diplomacia brasileira. Segundo analistas, suas declarações e os comunicados do Ministério das Relações Exteriores indicam um abandono da tradicional neutralidade do Brasil em questões internacionais.
Em uma recente entrevista durante sua viagem ao México, Lula lamentou a postura do governo israelense, afirmando: “Sinceramente, é inexplicável que o Conselho de Segurança da ONU não tenha autoridade moral e política de fazer com que Israel sente numa mesa para conversar, em vez de só saber matar”. Essa declaração, juntamente com críticas à guerra de Israel contra grupos terroristas como Hezbollah e Hamas, mostra que a administração Lula está se afastando da diplomacia moderada que caracterizou o Brasil por décadas.
Analistas apontam que essa nova postura pode resultar em consequências negativas, como a perda de prestígio internacional e oportunidades econômicas, além de um alinhamento mais próximo com regimes autocráticos. A neutralidade brasileira, historicamente, ajudou o país a se firmar como um negociador respeitado em cenários internacionais, mas a abordagem atual pode comprometer essa reputação.
O professor Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí, enfatiza que a neutralidade do Brasil era crucial para sua imagem global. “Toda vez que o Brasil se coloca contrariamente a Israel ou deixa de condenar as ações dos extremistas, não ganha nada substancial e pode perder oportunidades importantes”, destacou.
Lula também criticou as operações israelenses no Líbano, referindo-se a mortes de civis e afirmando que Israel “só sabe matar”. Ele mencionou um número elevado de mortos em Gaza, que, segundo ele, inclui muitas mulheres e crianças, embora esse número não esteja devidamente verificado. Essa retórica anti-Israel, combinada com o silêncio sobre as ações do Irã, reflete uma mudança na política externa do Brasil que, para alguns, sinaliza um alinhamento crescente com nações anti-Ocidente, como China, Rússia e Irã.
A Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados já se mobilizou para cobrar explicações de diplomatas sobre a nova postura do governo. O deputado General Girão (PL-RN) criticou Lula, afirmando que suas declarações o tornaram um “pigmeu da diplomacia”.
Além disso, Lula já havia enfrentado críticas anteriormente ao comparar ações israelenses a atrocidades nazistas durante o Holocausto, o que resultou em sua declaração como “persona non grata” em Israel. Essas comparações e sua atual retórica podem novamente impactar negativamente sua popularidade, conforme indicam pesquisas que já mostraram uma queda na aprovação de seu governo após declarações polêmicas.
O professor Paulo Kramer, da Universidade de Brasília, acredita que a nova política externa de Lula vai além de uma simples mudança de tom, refletindo uma mudança estrutural nos valores do Itamaraty e um distanciamento dos princípios que sempre guiaram a diplomacia brasileira.
A atual abordagem do Brasil sob Lula pode complicar suas relações com os aliados ocidentais, especialmente em um contexto internacional marcado por divisões geopolíticas, e representa uma ruptura com a tradição de neutralidade que caracterizou a política externa brasileira nos últimos anos.