O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstrou irritação ao ser questionado por jornalistas sobre a ausência de menção à crise na Venezuela durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Durante uma conversa com a imprensa no México, Lula respondeu de forma defensiva: “Por que eu tenho que falar da Venezuela em todo lugar? Eu não falo nem da Janja em todo lugar. Eu falo o que me interessa falar.”
A declaração do presidente destaca um ponto sensível em sua administração, especialmente em relação à política externa e às suas relações com a Venezuela, um país com o qual o Brasil compartilha uma extensa fronteira de 1.600 km. Lula enfatizou seu interesse em que a Venezuela retorne à normalidade democrática, embora tenha evitado discutir o tema de forma mais aprofundada em seu discurso na ONU. “É um país que eu desejo que esteja em paz”, declarou, indicando que há uma necessidade de condições favoráveis para retomar diálogos construtivos.
Lula também se referiu a uma “relação diplomática muito forte” entre Brasil e Venezuela, mencionando que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em contato com o chanceler venezuelano. No entanto, sua recusa em abordar a crise de forma mais direta levanta questões sobre a postura do governo brasileiro diante da situação política conturbada do país vizinho.
Passado e Prioridades do Governo
Em um outro momento de sua visita ao México, Lula fez referência à sua própria trajetória, aludindo a um período de “canalhice” que sofreu durante as investigações da Operação Lava Jato. Ele disse que, ao retornar à presidência, estava “predestinado a deixar o passado de lado” e a governar com a “cabeça e o coração”. Essa declaração indica um esforço do presidente em enfatizar uma nova fase em sua administração, focada na reconstrução do país após um período conturbado.
Lula destacou suas prioridades, como a aprovação do arcabouço fiscal e a reforma tributária, como medidas para garantir confiança tanto para empresários brasileiros quanto estrangeiros. Durante o Seminário Empresarial México-Brasil, ele reforçou a importância de criar um ambiente favorável para negócios, sinalizando sua intenção de atrair investimentos internacionais e fortalecer a economia brasileira.
As declarações de Lula no México evidenciam não apenas uma irritação com a crítica, mas também uma estratégia diplomática cautelosa em relação à Venezuela. Sua insistência em focar em temas que considera prioritários, enquanto evita questões mais espinhosas, reflete a complexidade de sua posição no cenário internacional e as nuances de sua política interna. A capacidade de Lula de navegar por essas águas turbulentas será crucial para o futuro da política externa brasileira e para a relação do país com os vizinhos, especialmente a Venezuela.