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sexta-feira, 22 novembro, 2024
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Proibir o uso do Bolsa Família para apostas vai dar ruim, afirma Veja

Por Alexandre Gomes

 Brasil descobriu, chocado, que, apenas em agosto, 24 milhões de pessoas gastaram mais de 20 bilhões de reais em apostas. O choque foi duplo porque cerca de 3 bilhões de reais vieram de beneficiários do Bolsa Família, o que prenuncia uma devastação social.

“É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não temos noção do que isso poderia causar”, informou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.

Qualquer um que esteja no mundo há mais de meia hora sabe que jogo, sem regulação forte, traz alcoolismo, drogas, desemprego, prostituição, ruína financeira de famílias inteiras e criminalidade de todo tipo, mas o governo não olhou com a atenção devida.

Como não poderia deixar de ser, deu ruim. E deu ruim pra valer.

O governo agora quer resolver o problema proibindo que os membros do Cadastro Único para Programas Sociais , que reúne 44% da população, usem seus benefícios para jogar.

Vai dar ruim de novo. Perguntar não ofende:

  • E os outros 56% da população? Tudo bem eles se arrebentarem?
  • Se o governo acha que o jogo é tão ruim que quer proibir metade da população de jogar, qual é o seu argumento para deixar que o resto da população jogue?
  • O Bolsa Família funciona porque entrega o dinheiro vivo na mão do cidadão, e ele decide o que fazer. Se ele for proibido de usar o dinheiro para jogar, quanto tempo vai demorar até que alguém queira proibi-lo de comprar álcool, tabaco, alimentos ultra processados ​​ou seja lá o que for?
  • Como será aprovada, na prática, essa suspensão? Como impedir que cidadãos aluguem seus CPFs, ou façam outro tipo de fraude, para que seus vizinhos joguem?
  • Sem falar que permitir que algo seja oferecido a todos e depois proibir uma parcela da população — justamente a mais vulnerável — é insultuosa e autoritária.

O jogo, como o consumo de álcool, tabaco e outras drogas, é uma atividade que causa dependência, e funciona melhor restringindo a oferta do que proibir a demanda. Há muitas maneiras de fazer isso, eis algumas:

  • Criar regras duras para sites que oferecem jogos, e fiscalizá-las com rigor
  • Proibir propaganda e promoções
  • Veja o acesso de crianças (é possível estimar a idade do usuário com o uso de questionários online)
  • Limitar o tempo online
  • Limitar o número de apostas em determinado intervalo de tempo
  • Limitar o horário em que o jogo é permitido, como certos países já fazem (é mais comum que pessoas sejam solitárias, deprimidas ou drogadas, e inclinadas a jogar, de noite e de madrugada)
  • Obrigar os sites a alertar que jogo causa dependência e oferece riscos
  • Obrigar os sites a oferecer suporte psicológico (de terceiros homologados pelo ministério da Saúde)
  • Obrigar os sites a alertar os usuários sobre o quanto perdido
  • Criar cadastros para que os próprios usuários possam banir a si mesmos
  • Proibir jogo com cartão de crédito (nada de tomar empréstimo para jogar), como certos países já fazem
  • Limitar o uso do PIX
  • Promover campanha de conscientização dos riscos

Jogo é coisa séria e arriscada, medidas como essas (e outras) deveriam ter sido discutidas quando da aprovação da lei, mas as autoridades estavam mais interessadas no aumento da arrecadação, e das palavras delas oriundas, e no lobby dos empresários do setor. Antes tarde do que nunca, é melhor discutirem-nas já do que acreditarem em soluções mágicas.

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