O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao abrir a Assembleia Geral da ONU na última terça-feira, 24, fez um apelo global para o combate às mudanças climáticas, destacando a situação crítica dos incêndios que assolam a Amazônia. No entanto, o aumento significativo dos focos de fogo e a resposta lenta do governo têm levantado questionamentos sobre a efetividade da gestão ambiental de Lula, conforme reportado pelo jornal The Washington Post.
Contradições entre o discurso e a realidade
Embora Lula tenha ressaltado em seu discurso a gravidade da seca e as atividades criminosas como causas dos incêndios, ele deixou de mencionar que, sob seu governo, os números de queimadas na Amazônia atingiram patamares alarmantes. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Amazônia registrou 38.000 incêndios em agosto de 2023, o maior número para esse mês desde 2010. Setembro também deve fechar com números similares, enquanto a fumaça já atinge grandes centros urbanos, como São Paulo, a milhares de quilômetros da floresta.
Lula declarou que “a Amazônia está passando pela pior seca em 45 anos” e que “incêndios florestais já devoraram 5 milhões de hectares”. Contudo, o jornal norte-americano destacou que, apesar dessas declarações, o governo brasileiro foi alertado já em fevereiro sobre os riscos elevados decorrentes da seca. Além disso, a capacidade de fiscalização foi prejudicada pela greve de seis meses no Ibama, órgão regulador ambiental, que só foi encerrada em agosto.
Políticas ambientais em conflito
Uma das críticas mais contundentes apontadas pela publicação é a falta de alinhamento entre o discurso climático de Lula e as ações de seu governo. Enquanto o presidente clama por maior responsabilidade global na redução de emissões, membros de seu gabinete, como o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, defendem a exploração de reservas de petróleo próximas à foz do Rio Amazonas, região sensível do ponto de vista ambiental. Essa iniciativa preocupa ambientalistas, que veem a exploração petrolífera como um retrocesso no compromisso brasileiro com a transição energética e a preservação do bioma amazônico.
Além disso, Lula prometeu recentemente pavimentar uma estrada na Amazônia, o que, segundo especialistas, pode acelerar ainda mais o desmatamento. Esses projetos contradizem a imagem de defensor do clima que o presidente tenta projetar em fóruns internacionais, gerando críticas tanto de ONGs ambientais quanto de consultores políticos.
Histórico ambiental de Lula e desafios atuais
Quando Lula foi presidente pela primeira vez, entre 2003 e 2010, ele se posicionou como um líder ambiental, promovendo o Brasil como um exemplo de conservação e responsabilizando os países ricos pela degradação ambiental global. Durante a campanha de 2022, ele se apresentou como uma “alternativa ambiental” ao governo de Jair Bolsonaro, mas a situação piorou exponencialmente desde 2023.
A escalada dos incêndios florestais e a lentidão na resposta governamental levantam dúvidas sobre o compromisso de seu governo com a preservação da Amazônia. Para o consultor político Thomas Traumann, “Lula sempre foi visto como um campeão do meio ambiente em encontros internacionais, mas desta vez isso não soa verdadeiro”.
Medidas anunciadas e críticas
Na tentativa de mitigar as críticas, Lula anunciou que aqueles que forem pegos ateando fogo em florestas pagarão multas de até R$ 9.000 por hectare. Além disso, o governo brasileiro destinou R$ 500 milhões para o combate a incêndios em todo o país. Contudo, essas medidas são vistas como paliativas frente à magnitude do problema e à complexidade das ações necessárias para proteger a Amazônia.
Durante seu discurso na ONU, Lula continuou a pressionar as nações desenvolvidas, argumentando que “o planeta está farto de acordos climáticos que não são cumpridos” e que “metas negligenciadas de redução de emissões de carbono” estão agravando a crise climática. No entanto, suas palavras contrastam com a falta de uma estratégia clara para o Brasil na liderança da próxima conferência climática, a COP-30, que será realizada em Belém, em 2025.
Sinais contraditórios
Os sinais conflitantes nas políticas do governo Lula foram destacados pela ambientalista Tica Minami, segundo ela, o governo precisa priorizar a proteção ambiental, mas as ações até agora mostram um comprometimento ambíguo. “Nosso governo precisa ser corajoso e fazer o que é necessário para o meio ambiente e seu povo. Mas as empresas também têm grande responsabilidade. São elas que lucram com a destruição do meio ambiente”, afirmou.
Conclusão
O discurso de Lula na ONU destacou a urgência da ação climática global, mas foi enfraquecido pela realidade das políticas ambientais e energéticas de seu próprio governo. As promessas de enfrentamento às mudanças climáticas se chocam com a pressão por desenvolvimento econômico e exploração de recursos, gerando críticas sobre a consistência e a eficácia de suas medidas para proteger a Amazônia. A divergência entre suas palavras e ações ameaça a liderança que ele busca estabelecer no cenário global como defensor do meio ambiente.