Levantamento do GLOBO feito a partir dos dados da Quaest nas corridas de 21 cidades aponta que em 13 os postulantes de direita largam na frente no segmento
Um dos segmentos mais refratários ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os evangélicos mantêm posicionamento oposto ao governo federal nas eleições municipais deste ano. Levantamento do GLOBO feito a partir dos dados da Quaest nas corridas de 21 capitais aponta que em 13 os postulantes de direita largam na frente no segmento. Em outras seis, nomes do centro lideram e apenas em duas — João Pessoa e Curitiba, onde há empate entre candidatos de cada campo — opções da esquerda surgem em primeiro lugar. Nenhum deles, no entanto, pertence ao PT, sigla do atual presidente.
Segundo pesquisa Quaest de julho, Lula é reprovado por 52% deste eleitorado. A rejeição também era aparente na disputa presidencial: na última pesquisa Datafolha do pleito de 2022, Jair Bolsonaro tinha quase 70% dos votos do grupo.
No entanto, apesar desta adesão ao ex-presidente, os evangélicos não embarcam necessariamente na campanha de candidatos indicados por ele. Apenas metade dos nomes da direita que vão bem entre os religiosos disputam o pleito com a bênção de Bolsonaro.
O caso mais marcante ocorre em São Paulo, onde o empresário Pablo Marçal (PRTB) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) aparecem empatados tecnicamente no eleitorado geral na Quaest da última quarta-feira, mas distantes neste segmento. O ex-coach tem 37% dos evangélicos, enquanto Nunes soma 26%.
Discursos direcionados
Com um discurso muito associado à chamada teologia da prosperidade, que associa a riqueza ao desejo de Deus e é repetida entre pentecostais, Marçal tem uma alta penetração nas bases de igrejas menores, que concentram a maior parte dos fiéis. Apesar disso, ele se identifica apenas como cristão e disse em entrevista, durante as eleições de 2022, que entende o cristianismo enquanto um estilo de vida.
Líder em aprovação no segmento, o prefeito de Macapá, Dr. Furl(”) tem 94% da preferência deste eleitorado, mesmo disputando sem o apoio do ex-presidente. O alto índice acompanha sua intenção de voto entre o restante da população, de 91%.
Outro exemplo é o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que tem 58% do voto evangélico na capital capixaba e um passado de rusgas com Bolsonaro. Preferido para a reeleição, enfrentará nas urnas o deputado estadual Capitão Assumção, do PL, partido do ex-presidente.
Quando foi eleito há quatro anos, Pazolini teve o apoio do ex-mandatário, mas optou por escondê-lo ao longo da campanha. Com uma postura mais moderada, em 2022, não declarou voto à Presidência, irritando os apoiadores do então candidato à reeleição e consolidando o distanciamento entre os dois.
Em Belo Horizonte, um outro candidato sem padrinhos nacionais tem a preferência dos fiéis, o deputado estadual Mauro Tramonte. Filiado ao Republicanos e apresentador licenciado da Record TV, ambos comandados pela Igreja Universal do Reino de Deus, Tramonte vê sua vantagem se expandir no segmento.
Atual líder da disputa geral, com 27% das intenções de voto, Tramonte tem dez pontos percentuais a mais entre os evangélicos.
Em contrapartida, há nove postulantes apoiados por Bolsonaro que transitam melhor entre os religiosos do que no eleitorado geral. O caso mais significativo ocorre em Cuiabá, onde o deputado federal Abílio Brunini (PL) é o segundo colocado na disputa, mas tem uma vantagem de nove pontos percentuais entre os evangélicos em relação ao líder, o deputado estadual Eduardo Botelho (União Brasil).
A preferência de 35% do segmento se justifica pela defesa dos valores cristãos: Brunini é neto do pastor Sebastião Rodrigues de Souza, que chegou a presidir a Assembleia de Deus no estado e morreu em agosto de 2020, vítima de Covid-19.
Em Maceió, Salvador e Boa Vista, os prefeitos que concorrem com o apoio do ex-presidente também têm melhor performance no grupo. No capital alagoana, João Henrique Caldas, o JHC, alcança 83% entre evangélicos; no eleitorado geral, suas intenções de voto estão em 74%.