Relatório anual da União da Energia destaca preocupação com ritmo lento da transição para energias renováveis e dependência persistente de gás russo.
BRUXELAS – A União Europeia (UE) ainda depende da Rússia para quase um quinto das suas importações de gás, apesar de uma significativa queda no fornecimento desde o início da invasão russa da Ucrânia em 2022. A comissária da Energia, Kadri Simson, ao apresentar o relatório anual sobre o estado da União da Energia, hesitou ao ser questionada sobre a possibilidade de incluir o gás natural russo em um regime de sanções ampliado.
“Continuamos totalmente empenhados em concluir a eliminação progressiva do gás russo, o que pode ser feito sem pôr em causa a segurança do aprovisionamento energético da Europa”, afirmou Simson, reforçando o compromisso do bloco com a independência energética. No entanto, o relatório revelou que, até agosto, a Rússia ainda representava 18% das importações de gás da UE — pouco mais do que as importações de Gás Natural Liquefeito (GNL) dos Estados Unidos.
Dependência de Gás Russo e Alternativas de Fornecimento
Apesar de uma redução drástica nas importações, de 150 bilhões de metros cúbicos em 2021 para 18% das importações totais de gás até agosto deste ano, a Rússia continua sendo o segundo maior fornecedor de gás da Europa, atrás apenas da Noruega. Quando questionada sobre possíveis sanções às importações de gás natural russo — especialmente com o fim previsto das transferências trans-ucranianas após a expiração do acordo de trânsito no final do ano — Simson declarou que a Rússia já perdeu sua capacidade de influenciar o mercado europeu de energia.
“Os volumes que algumas empresas ainda estão a receber da Rússia já não permitem que ela nos chantageie – há alternativas disponíveis”, afirmou a comissária, mencionando que as reservas de gás da Europa estão bem abastecidas antes do início do inverno.
Simson também enfatizou que o executivo da UE está preparado para o fim do acordo de trânsito entre a Gazprom, da Rússia, e a Ucrânia. “Encontrámos rotas de abastecimento alternativas e os Estados-Membros ou as suas empresas que ainda estão a receber gás da Rússia tiveram mais dois anos em comparação com outras empresas que a Rússia decidiu cortar em 2022”, explicou.
Desafios e Caminhos Alternativos para a Transição Energética
A UE enfrenta o desafio de garantir que o gás russo, ao deixar de passar pela Ucrânia, não seja simplesmente redirecionado através de outras rotas, o que privaria Kiev das taxas de trânsito. “Minha maior missão é encorajar as empresas que ainda estão a receber gás russo através de gasodutos… a optarem por alternativas mais previsíveis”, afirmou Simson.
Embora as importações de gás da Rússia sejam ainda permitidas enquanto não houver sanções específicas, a comissária instou os governos a “fazerem bom uso dos instrumentos” acordados em uma revisão recente das regras do mercado de gás, que permitem proibições unilaterais às importações de GNL da Rússia. Até o momento, nenhum membro da UE aplicou essas proibições.
Aceleração da Transição para Energias Renováveis
O relatório anual da União da Energia, publicado desde 2015, destaca a necessidade urgente de acelerar a instalação de turbinas eólicas, painéis solares e outras infraestruturas de energia renovável, visando o objetivo da UE de 42,5% de energia verde até 2030. Apesar de o setor de energias renováveis ter ultrapassado os combustíveis fósseis na produção de eletricidade no ano passado, o ritmo de implementação ainda é considerado lento.
A França, por exemplo, é o único país da UE que não alcançou a meta de 20% de energias renováveis para 2020, e a Comissão está “em diálogo” com Paris sobre o assunto. Simson se recusou a especificar se um processo formal de infração está sendo considerado. O executivo comunitário apoia o aumento do uso de acordos de compra de energia e de “contratos por diferença” apoiados pelo Estado para acelerar a transição energética, conforme recomendado no relatório Draghi sobre competitividade europeia.
Apelo por Ações Mais Eficazes
O relatório serve como um alerta para que a Comissão e os Estados-membros da UE implementem com mais seriedade as suas políticas energéticas. “Este relatório é uma mensagem clara para a Comissão e os Estados da UE: é altura de levar a sério a implementação”, afirmou Luke Haywood, responsável pela política climática e energética do Gabinete Europeu do Ambiente.
A necessidade de criar grupos de trabalho para monitorar o progresso em áreas como economia de energia, renováveis e eletrificação foi destacada como essencial para garantir que a UE atinja suas metas climáticas e energéticas, reduzindo ainda mais sua dependência de fontes de energia externas, como o gás russo.