A dois dias das comemorações do Dia da Independência, em 7 de Setembro, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, anunciou que as celebrações serão modestas devido às restrições orçamentárias. Apesar de um evento mais contido, Múcio afirmou que a relação entre as Forças Armadas e o governo Lula está harmonizada e não há mais conflitos a serem resolvidos.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast Político, Múcio descreveu o ano de 2023 como “um inferno” devido aos ataques golpistas ocorridos em 8 de janeiro na sede dos Três Poderes. Ele mencionou que, na época, tanto a esquerda quanto a direita estavam insatisfeitas com as Forças Armadas. “A esquerda acreditava que as Forças Armadas haviam planejado o golpe, e a direita achava que o golpe não aconteceu”, comentou o ministro. “Então, em 2023, eu não tinha nem com quem conversar.”
Múcio também destacou que o orçamento previsto para 2025, conforme o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado ao Congresso, é insuficiente para cobrir as despesas acumuladas no ministério. Ele afirmou estar trabalhando arduamente para garantir mais recursos para a Defesa.
Sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) que visa proibir a candidatura de militares da ativa, Múcio expressou sua decepção com a ausência de uma regra desse tipo no Brasil e afirmou que se esforçará para retomar a discussão da proposta. “Se o projeto não tem mais jeito, é porque alguém morreu. Mas ainda podemos buscar as pessoas e explicar melhor”, disse.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Qual a principal mensagem que o desfile de 7 de Setembro quer transmitir?
“Queremos mostrar nosso orgulho pela data. Embora o evento seja reduzido, será muito bonito. O governo convidou todos os ministros, mas sem helicópteros ou caças voando, para reduzir custos.”
Essa economia com o 7 de Setembro desgasta a relação do governo com as Forças Armadas?
“As Forças Armadas compreendem as dificuldades e o trabalho conjunto para manter o entusiasmo e os objetivos intactos. Estamos tomando medidas, como criar a PEC da previsibilidade, para melhorar a situação.”
O governo anunciou recentemente um congelamento de R$ 675 milhões no orçamento da Defesa.
“Esse problema vem de anos de cortes no orçamento. A Defesa não é um ministério político e não tem a visibilidade de outras áreas, por isso, os recursos são sempre limitados.”
O orçamento previsto para 2025 é de R$ 133 bilhões. O senhor está satisfeito com isso?
“É o que foi alocado, mas é insuficiente para cobrir as despesas acumuladas. Temos muitas contas pendentes e recursos limitados.”
Como está a relação com os comandantes das Forças Armadas?
“A relação é muito boa e respeitosa, mesmo com as dificuldades. Todos estão empenhados em encontrar uma solução.”
O senhor fará algum movimento para que o Congresso aumente o orçamento da Defesa?
“Trabalharemos para pedir emendas e buscar mais recursos. No entanto, mesmo com emendas, o valor total é relativamente pequeno.”
Como o senhor avalia a relação com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad?
“Haddad é um importante membro da equipe e está fazendo o seu papel. As dificuldades são parte de um esforço maior para equilibrar as contas públicas.”
Sobre a PEC que destina 2% do PIB para a Defesa, ainda é possível aprovar esse projeto?
“Mesmo com desafios, precisamos manter nossos objetivos. A PEC é importante para garantir previsibilidade orçamentária para a Defesa.”
O Palácio do Planalto está envolvido na articulação dessa PEC?
“Após os problemas recentes, acredito que o Planalto está engajado, mas enfrenta dificuldades devido às brigas internas no Congresso.”
Há descontentamento com o presidente Lula ou com o ministro Haddad devido à falta de recursos?
“Não há descontentamento pessoal. A situação é resultado das limitações orçamentárias e da necessidade de equilibrar as contas.”
Como o senhor descreve a atual relação entre o governo e as Forças Armadas?
“As Forças Armadas desejavam mais recursos, mas sabem do meu empenho para melhorar a situação.”
Sobre a PEC que propõe a reserva dos militares que disputarem eleições, o projeto ainda está parado.
“Sinto vergonha que o Brasil ainda não tenha uma regra clara. É importante separar política e militar. Vou continuar tentando avançar com o projeto.”
Recentemente, foi reinstaurada a Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos. O senhor é a favor?
“Sim, sou a favor, desde que não seja usado como um instrumento de briga ideológica.”
O ministro Silvio Almeida, dos Direitos Humanos, conversou com os comandantes sobre o assunto?
“Sim, conversou e nós apoiamos, desde que o processo não seja ideológico.”