A repressão à dissidência política na Venezuela após a recente eleição presidencial atingiu níveis alarmantes, de acordo com a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW). A entidade registrou 11 assassinatos durante os protestos em massa que se seguiram à eleição do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato.
“Este ano tem sido particularmente intenso em termos de mortes relacionadas à violência e aos protestos pós-eleitorais”, declarou Juanita Goebertus, diretora da HRW Américas, em entrevista à CNN.
A oposição venezuelana e observadores internacionais independentes alegam que houve fraude eleitoral, com Edmundo González sendo o verdadeiro vencedor da eleição, recebendo quase 70% dos votos. O regime de Maduro não divulgou registros oficiais da votação.
ONGs Denunciam Detenções em Massa e Mortes Alarmantes na Venezuela
Dados do governo venezuelano indicam que mais de 2,4 mil pessoas foram detidas, incluindo menores de idade, e ONGs relataram pelo menos 24 mortes.
“Em termos de prisões, mais de 2,4 mil pessoas foram detidas, um número muito superior ao que vimos em 2014 e 2017”, acrescentou Juanita Goebertus.
Envolvimento das Forças de Segurança
A Human Rights Watch revisou certidões de óbito, vídeos e fotos para confirmar os 11 homicídios. Em vários casos, a HRW concluiu que as forças de segurança do Estado ou milícias pró-governo estavam envolvidas nas mortes.
Em El Valle, Caracas, a HRW verificou vídeos mostrando membros da Guarda Nacional disparando gás lacrimogêneo e balas de borracha contra a população, menos de 24 horas após Maduro ser declarado vencedor.
Vídeos geolocalizados mostram manifestantes carregando Anthony García, de 20 anos, e Olinger Montaño, de 23, que morreram horas depois devido a ferimentos no peito. Em Maracay, Aragua, seis pessoas foram mortas por ferimentos a bala, incluindo o engenheiro civil Rances Yzarra.
Após os protestos, o procurador-geral Tarek William Saab alegou que opositores estavam fabricando mortes e ferimentos. Ele posteriormente se retratou quando Maduro reconheceu as mortes.
Nova Lei Restringe Ações de ONGs
Juanita Goebertus também expressou preocupação com uma nova lei aprovada pela ditadura que limita as atividades de ONGs e grupos de direitos humanos na Venezuela.
“Não é surpresa que essa lei tenha sido aprovada exatamente neste momento, permitindo ao governo processar criminalmente aqueles que representam organizações não-governamentais”, afirmou a diretora. “Se essa lei avançar, a possibilidade de ficarmos totalmente cegos em relação à repressão na Venezuela será muito real”, concluiu.