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segunda-feira, 25 novembro, 2024
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Professor da Universidade de Michigan conclui: Ata das eleições venezuelanas indica vitória de González

Por Marina B.

Menos de um mês após as eleições presidenciais na Venezuela, o ditador Nicolás Maduro ainda não divulgou as atas de votação que comprovariam sua vitória contestada, validada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que é controlado pelo chavismo. Enquanto isso, a oposição continua se mobilizando nas ruas em defesa da vitória de Edmundo González Urrutia, corroborada por 80% das atas obtidas diretamente dos colégios eleitorais e publicadas online por seus apoiadores. Em meio ao impasse, análises independentes têm confirmado os resultados apresentados pela oposição.

Um novo estudo, conduzido pelo professor Walter Mebane da Universidade de Michigan, analisou mais de 25 mil atas divulgadas pela oposição. De acordo com a pesquisa, a probabilidade de que os resultados apresentados pela chapa de González Urrutia sejam autênticos é de 99,97%.

Mebane usou uma técnica de análise de dados eleitorais conhecida como Eforensics, que aplica estimativas bayesianas para calcular a probabilidade de fraudes eleitorais. O modelo avalia três variáveis no caso venezuelano: eleitores registrados, votos válidos totais e votos do vencedor. Com base nesses dados, o método identifica possíveis irregularidades que poderiam beneficiar o “líder”, neste caso, Edmundo González.

Os resultados podem indicar três possibilidades: ausência de fraude, fraude menor que altera ligeiramente a contagem de votos ou fraude extrema que pode modificar o resultado. No caso das eleições de 28 de julho, apenas duas das mais de 25 mil sessões eleitorais mostraram indícios de fraude, com apenas 57,9 votos possivelmente fraudulentos, um número muito baixo, e com um índice de confiança de 99,5%. O estudo sugere que é improvável que esses votos tenham sido atribuídos a González Urrutia.

O professor Mebane destacou que as eleições mais recentes na Venezuela apresentam menos fraudes no padrão Eforensics em comparação com eleições anteriores.

“Como o modelo não detecta problemas com a estimativa, posso afirmar que há uma prova sólida de que a eleição demonstrou uma vitória de González com grande margem, conforme 80% das atas divulgadas, e sem indícios de fraude”, afirmou Mebane em entrevista ao Estadão.

O modelo de Mebane define fraude como votos fabricados, que deveriam ter sido abstenções ou foram deliberadamente inseridos para beneficiar um candidato, e votos roubados, que deveriam ter sido atribuídos a outro candidato ou que foram contabilizados incorretamente.

“Em muitos países, as listas de eleitores são ampliadas com eleitores fictícios que votam no dia da eleição, como na Rússia”, afirmou Mebane, que também analisou fraudes eleitorais na Rússia e na Bolívia.

O modelo não detecta mudanças no padrão de comportamento, como a supressão de votos ou eleitores ameaçados, mas não há evidências de tais práticas na Venezuela no dia da eleição, apenas antes, com eleitores sendo impedidos de se registrarem.

O estudo analisou as atas publicadas pela oposição em um site, já que o CNE não divulgou nenhuma ata até o momento. O CNE proclamou Nicolás Maduro como vencedor com 51% dos votos contra 44% de González. A oposição, que conseguiu coletar 80% das atas, afirma que González venceu com 67% dos votos. Essa alegação é corroborada por contagens independentes da Associated Press, The Washington Post e a plataforma AltaVista, que inclui Mebane e pesquisadores brasileiros e venezuelanos.

Embora o método de Mebane não possa verificar a autenticidade das atas, outras análises corroboraram sua veracidade. Cada ata possui um QR Code e um código hash para identificar sua origem.

As atas de votação na Venezuela, diferentes do Brasil onde são coladas nas portas das seções eleitorais ao fim da votação, são entregues diretamente aos fiscais de urna dos partidos. No dia 28 de julho, o CNE deveria ter disponibilizado as atas em seu site e publicado os resultados urna por urna dentro de 48 horas, mas isso não ocorreu. A oposição coletou e divulgou as atas individuais no site “Resultados con Vzla”.

Se o CNE publicar as atas originais, Mebane disse que submeterá os documentos à análise do seu modelo. “Eu vi que o governo não liberou nenhuma evidência para apoiar suas reivindicações, e talvez estejam fabricando evidências. Quanto mais tempo demorarem para liberar, menos crível será. Se liberarem os dados, tentaremos analisá-los, mas, no momento, isso tem pouco valor”, afirmou.

Mebane já aplicou seu modelo em outras eleições, incluindo na Bolívia em 2019, onde a vitória de Evo Morales foi contestada e levou a grandes protestos. Uma auditoria da OEA apontou irregularidades, mas estudos, incluindo o de Mebane, mostraram que as fraudes não foram suficientes para alterar os resultados. Morales renunciou e as eleições foram repetidas em 2020, com Luis Arce vencendo.

O estudo de Mebane reforça a ideia de que o problema nas eleições venezuelanas não foi o processo de votação em si, que é eletrônico e seguro, mas sim o que ocorreu antes e depois do pleito. Isso levanta questões sobre a necessidade de repetir as eleições, como sugerido por Luiz Inácio Lula da Silva e Gustavo Petro. O CNE proclamou Maduro vencedor sem publicar as atas, enquanto a oposição fez uma apuração paralela que deu vitória a González. Diversos países, incluindo os EUA, reconheceram a vitória de González com base nesta apuração paralela, ao contrário do Brasil e Colômbia, aliados do chavismo, que exigem a publicação das atas. Na última quinta-feira, 22, o Tribunal Supremo de Justiça do país, conhecido por apoiar o chavismo, ratificou a vitória de Maduro, gerando novas reações internacionais.

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