Diante das incertezas destacadas pelo Banco Central em suas últimas comunicações e pelas declarações de seus diretores, instituições financeiras, corretoras e casas de análise estão revisando suas previsões para a Selic. Cresce a expectativa no mercado de que a taxa básica de juros possa aumentar já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Uma pesquisa da Folha com 24 instituições revela que seis delas esperam uma elevação da Selic em setembro, quando ocorrerá o próximo encontro do Copom. Algumas instituições já projetam um aumento de 0,5 ponto percentual na taxa no próximo mês.
Embora essa expectativa ainda seja minoritária, com a maioria prevendo a manutenção da Selic em 10,50% até o fim do ano e nenhuma previsão de corte, muitas instituições consultadas estão revisando suas projeções. Algumas preferiram não participar da pesquisa neste momento.
Além disso, as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta terça-feira (20), aumentaram a incerteza.
Com a deterioração das projeções para a inflação, a percepção de risco para as contas públicas e a alta do dólar, alguns analistas já previam um novo ciclo de elevação dos juros. A ata da última reunião do BC, que sugeriu a possibilidade de uma nova alta da Selic por decisão unânime, intensificou a revisão das expectativas.
A revisão foi acentuada após Gabriel Galípolo, nome cotado para assumir a presidência do Banco Central em 2025, reforçar no início do mês que a alta de juros estava sendo considerada pelo Copom.
Nesta semana, BTG Pactual e XP ajustaram suas estimativas, prevendo um aumento da Selic já em setembro. O BTG acredita em um aumento total de 1,5 ponto percentual em um próximo ciclo de alta, começando com uma elevação de 0,25 ponto em setembro e mais duas altas de 0,5 ponto durante o ano, além de um ajuste final de 0,25 ponto no início do próximo ano.
“Acreditamos que um ajuste agora poderia favorecer cenários mais sustentáveis para a flexibilização da política monetária em 2025, ao mesmo tempo que endereça um cenário de inflação mais deteriorado”, afirmou o BTG.
A XP compartilha a mesma projeção do BTG, acreditando que o comitê optará por um ciclo mais rápido de alta de juros.
Dados recentes de atividade econômica e mercado de trabalho, além da resiliência do consumo, foram citados pelo Copom para justificar o distanciamento entre as expectativas de inflação e a meta, que é de 3% ao ano, com um teto de 4,5%. Embora a inflação tenha melhorado nos últimos meses, o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 4,5% até julho, subindo em relação aos 4,23% registrados até junho.
Grandes bancos que mantiveram suas previsões destacaram uma maior possibilidade de elevação dos juros, mesmo com a recente apreciação do real. O JPMorgan, por exemplo, apontou que, apesar da valorização da moeda brasileira, os dados reforçam o risco para a manutenção da Selic.
O Itaú também manteve sua previsão de Selic em 10,50% até o final de 2025, mas reconheceu que os riscos estão aumentando e que o grau de liberdade está diminuindo. Seus modelos indicam que, com o dólar a R$ 5,55 e uma Selic constante de 10,50%, o IPCA no primeiro trimestre de 2026 estaria em 3,2%. Para alcançar a meta de inflação, a Selic teria que subir para 11%.
O Bradesco, por sua vez, acredita que a depreciação do real ante o dólar torna inevitável uma alta de juros. No entanto, a equipe de análise do banco acredita que o compromisso do Copom com a meta de inflação pode aumentar as chances de evitar um aumento adicional dos juros.