Desde que um grupo composto por 15 homens armados e mascarados invadiu as instalações do canal de TV TC, localizado na cidade portuária de Guayaquil, em 9 de janeiro, o Equador encontra-se em um estado de “guerra”. O presidente Daniel Noboa declarou um estado de “conflito armado interno” contra as gangues criminosas e cartéis de drogas, categorizando-os como “terroristas”, recebendo solidariedade de vários países.
Os incidentes ocorreram em paralelo à fuga da prisão de José Adolfo Macías, conhecido como “Fito”, líder dos Los Choneros, um dos grupos mais perigosos do país, ao lado de Los Lobos e Los Tiguerones. Esses grupos são associados a narcocartéis mexicanos como o Sinaloa e o Jalisco Nova Geração, conforme apontado pela plataforma de investigação InsightCrime, que indica que Los Choneros surgiram como um braço armado de um cartel colombiano.
Essas conexões internacionais evidenciam que o problema do narcotráfico não se limita a alguns países latino-americanos, sugerindo uma expansão das atividades de organizações criminosas pela região. Ivan Briscoe, diretor do Programa para América Latina do International Crisis Group, destaca que, embora não haja uma expansão territorial dos grandes cartéis, há uma diversificação dos pontos de atividade do tráfico internacional de drogas e outros crimes na região ao longo das últimas quatro décadas.
Dados alarmantes chamam a atenção, como o aumento de homicídios por autor não identificado no Chile, indicando um possível aumento da impunidade relacionada ao crime organizado. No Brasil, o Primeiro Comando da Capital (PCC), opera em conjunto com cartéis mexicanos e máfia albanesa, enquanto na Argentina, a violência ligada ao microtráfico de cocaína nos subúrbios de Rosário vem aumentando.
Sebastián Hurtado, presidente da consultoria de risco político Prófitas, alerta para a expansão das organizações criminosas pela América Latina, destacando a posição estratégica do Equador entre os maiores produtores de cocaína, Colômbia e Peru, e seu acesso ao Oceano Pacífico. Ele sugere que, à medida que essas organizações encontram novas áreas para suas operações, sua influência se expande para outros países da região.
Por outro lado, Briscoe ressalta que não existem mais grandes “capos” ou organizações transnacionais controlando toda a cadeia do tráfico de drogas como antes. Atualmente, há um ecossistema de atores e grupos criminosos associando-se para diversas atividades, permitindo-lhes entrar em novos mercados na América Latina.
O aumento da violência na tripla fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai e na zona tripartida do Amazonas entre Brasil, Colômbia e Peru são destacados como pontos vulneráveis, caracterizados por fronteiras porosas e altos níveis de pobreza, que favorecem o narcotráfico. Os cartéis, agora operando de maneira diferente, alugam terrenos e rotas a organizações internacionais, formando um modelo de franquia para garantir logística e segurança.
A discussão sobre a dolarização no Equador e sua possível relação com o aumento do crime organizado é levantada, sugerindo que a moeda única dificulta a identificação de grandes transações suspeitas em comparação com uma economia não dolarizada. Guayaquil e outras áreas da costa do Pacífico, são apontadas como centros de lavagem de dinheiro nos últimos 20 anos, devido à circulação de dólares em espécie provenientes do narcotráfico.
Sebastián Hurtado destaca a importância de uma abordagem coordenada entre os governos latino-americanos para enfrentar o avanço do crime organizado na região, enfatizando a necessidade de estratégias conjuntas e a preocupação de que as atividades criminosas no Equador possam se expandir para outros países.