O ex-presidente da Costa Rica, Óscar Arias, vencedor do Nobel da Paz por suas negociações na América Central nos anos 1980, criticou a abordagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação à crise na Venezuela. Arias considera que é um erro esperar que o ditador Nicolás Maduro apresente as atas eleitorais.
“Eu esperava que um democrata como Lula, que já reconheceu derrotas eleitorais, tivesse chamado Maduro para dizer: ‘Você perdeu, reconheça a derrota e deixe o poder'”, afirmou Arias à Folha de S.Paulo.
Arias discorda da sugestão de Lula de que a oposição, ao contestar a vitória de Maduro anunciada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), deveria recorrer à Justiça. “Que Justiça na Venezuela? O sistema judiciário lá não é autônomo nem independente”, critica.
Arias foi um dos 30 ex-presidentes que assinaram uma carta aberta pedindo a Lula uma postura mais firme diante das acusações de fraude na Venezuela. Ele afirma que é claro que Maduro perdeu a eleição de 28 de julho, e considera inútil que líderes como Lula, López Obrador (México) e Gustavo Petro (Colômbia) insistam para que Maduro entregue as atas.
Lembrando sua experiência em 1990 na Nicarágua, onde a pressão internacional ajudou a garantir uma transição política após uma eleição contestada, Arias acredita que a comunidade internacional deveria fazer o mesmo com Maduro. Ele critica a posição do assessor internacional de Lula, Celso Amorim, que questionou a validade das atas da oposição.
“Estamos perdendo tempo pedindo ‘por favor, entregue as atas’. Maduro não vai entregar as atas porque não consegue refazê-las, e é evidente que ele perdeu”, argumenta Arias.
Sobre o papel de Lula, Arias sugere que, se fosse presidente da Costa Rica, ele exigiria diretamente que Maduro reconhecesse a derrota. Ele também critica Lula por sugerir que os opositores entrem na Justiça, dada a falta de independência do sistema judiciário venezuelano.
Arias também se posiciona contra a ideia de que críticas a Maduro sejam motivadas por interesses políticos externos, afirmando que a realidade é que o regime está prejudicando gravemente o povo da Venezuela e que a situação deve ser uma preocupação para todos os democratas.
*Com informações da Folha de São Paulo.