A diplomacia de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece ter escolhido suas batalhas contra regimes autoritários. Recentemente, a resposta do governo brasileiro à escalada de hostilidade da Nicarágua, sob o comando de Daniel Ortega, foi a expulsão da embaixadora nicaraguense no Brasil, Fulvia Patricia Castro Matus.
O Itamaraty reagiu com firmeza, baseando sua decisão no princípio de reciprocidade nas relações diplomáticas. Diferente dos governos petistas anteriores, que frequentemente apoiaram o regime nicaraguense, o Planalto decidiu não tolerar a afronta desta vez.
A crise teve início quando o embaixador brasileiro em Manágua, Breno Dias da Costa, foi expulso por não comparecer às celebrações dos 45 anos da Revolução Sandinista, que Ortega lidera. A decisão de Dias da Costa de seguir as orientações do Itamaraty foi um fator crítico para a reação do regime nicaraguense.
Apesar da tensão, o canal diplomático entre os dois países não foi completamente encerrado, mas os esforços do governo Lula para moderar o regime de Ortega foram infrutíferos. A intervenção de Lula, a pedido do papa Francisco, para a libertação de sacerdotes católicos detidos arbitrariamente na Nicarágua nunca foi perdoada por Ortega.
O governo Lula também fez tentativas para manter o diálogo com Manágua, inclusive recusando-se a se unir a 55 membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU que condenaram a Nicarágua por crimes contra a humanidade em 2023. O Brasil, em vez disso, ofereceu acolhimento a nicaraguenses expulsos pelo regime e, três meses depois, apoiou uma declaração da Organização dos Estados Americanos exigindo respeito ao Estado de Direito na Nicarágua.
Nos governos anteriores, Lula não tomou medidas semelhantes, mesmo diante de claras evidências de prisões arbitrárias, execuções extrajudiciais e a erosão das instituições democráticas na Venezuela e na Nicarágua.
Agora, a cumplicidade com regimes autoritários está começando a ter um custo interno.
*Com informações da Folha de São Paulo.