A relação próxima entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT e o ditador venezuelano Nicolás Maduro resultou em mais um embaraço para o Brasil. O Planalto, o Itamaraty e seu principal conselheiro, Celso Amorim, permanecem em silêncio diante da fraude eleitoral flagrante perpetrada pelo regime chavista e da repressão brutal contra políticos opositores.
Quase duas semanas após as eleições, Caracas ainda não conseguiu divulgar os boletins de urna que comprovam a reeleição de Maduro. Em um ambiente democrático normal, essa situação seria impensável, mas regimes autoritários como o venezuelano frequentemente criam suas próprias realidades.
Maduro exerce controle absoluto sobre todo o aparato governamental, incluindo o Judiciário e o comitê eleitoral. A dificuldade do regime em manipular documentos e criar justificativas mostra a magnitude da derrota sofrida nas urnas.
Estudos de diversas fontes, incluindo a respeitada organização Carter dos Estados Unidos, indicam que a oposição venceu com uma ampla margem.
Lula, Amorim e o PT parecem estar paralisados, uma vez que sempre foram conhecidos por sua admiração por ditadores aliados. O discurso da campanha de 2022, que pregava a defesa da democracia contra a ameaça de um autoritário como Jair Bolsonaro, não se aplica às barbaridades cometidas em países vizinhos, recebendo respostas ideológicas convenientes.
Em 2012, Dilma Rousseff usou a cláusula democrática para suspender o Paraguai do Mercosul após o impeachment de um presidente esquerdista, enquanto promovia a entrada da Venezuela chavista no bloco.
Uma das primeiras ações da política externa de Lula em seu terceiro mandato foi receber Maduro para uma visita de prestígio, logo após o ataque de vândalos que teriam celebrado se Bolsonaro tivesse, como Maduro, um poder absoluto para se manter no governo.
A esquerda no Uruguai, no Chile e até na Colômbia já compreendeu que o apoio ao chavismo não é aceitável para as forças democráticas na América do Sul. Os eleitores desses países exigem coerência entre a retórica interna e a política externa, e a popularidade dos recalcitrantes sofre as consequências.
No Brasil não é diferente. Para evitar esse desgaste, Lula deve tratar o regime de Maduro como o que realmente é — uma ditadura — e trabalhar pela transição pacífica para a democracia na Venezuela.
*Com informações da Folha de São Paulo.