O governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem ocultado informações sobre a situação dos povos yanomamis há pelo menos cinco meses. Esse apagão de dados impede a sociedade brasileira de entender as condições de vida dos indígenas, que têm sido alvo de repetidas violações em seu território no Norte do País.
Em fevereiro deste ano, o último dado disponível, o Ministério da Saúde informou que 363 indígenas morreram em 2023 devido a doenças e desnutrição na Terra Indígena Yanomami, localizada em Roraima e Amazonas. Este número é superior aos 343 óbitos registrados em 2022, durante a presidência de Jair Bolsonaro.
Apesar do discurso do governo atual em defesa dos povos indígenas, os dados mostram que a administração petista não conseguiu melhorar as condições devastadoras enfrentadas pelos yanomamis, mesmo após a formação de uma força-tarefa prometendo resolver os problemas da comunidade.
Lula, incomodado com a situação, fez uma ligação para a ministra Nísia Trindade, exigindo esclarecimentos. No entanto, parece que sua preocupação estava mais com a forma como os dados foram divulgados, após reportagens baseadas em informações obtidas por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), do que com o número real de mortes.
Os yanomamis continuam a sofrer com a negligência do poder público e a presença de garimpos ilegais, que poluem rios e afugentam a caça, exacerbando problemas de malária, desnutrição, conflitos e mortes.
Não há soluções fáceis para esse problema, e o governo Lula parece ter optado por não abordar o assunto. Até o momento, nenhum dado de 2024 foi divulgado, levantando suspeitas de que a situação possa ter piorado.
Além disso, pedidos de dados feitos por meio da LAI têm sido sistematicamente negados. O Ministério da Saúde afirmou ao Estadão que divulgará em breve um balanço com dados atualizados e precisos.
Em um governo democrático, a transparência não é uma opção, mas um direito do cidadão. O governo Lula tem a responsabilidade de fornecer dados claros e atualizados para mostrar se suas ações realmente melhoraram a vida dos yanomamis e dos povos indígenas em geral. A indignação gerada pelas imagens de crianças em condições deploráveis não pode ser ignorada.
No pronunciamento em cadeia de rádio e TV no domingo passado, Lula afirmou que seu governo resgatou “políticas de proteção dos direitos das mulheres, do povo negro, dos indígenas, das pessoas com deficiência e LGBTQIA+”. No entanto, sem dados concretos, não é possível confirmar se essas alegações são verdadeiras, especialmente no que diz respeito aos yanomamis. A palavra do presidente tem peso, mas numa democracia, essa palavra precisa ser acompanhada de evidências.