O fato de que a nota pró-Maduro do PT esteja alinhada com o histórico do partido não a torna menos reprovável. A visão anti-imperialista do PT obscurece o fato de que a fome e a repressão na Venezuela não podem ser atribuídas apenas às sanções americanas, mas também a um Maduro que, assim como Bolsonaro, prefere alimentar seus militares em vez dos mais pobres. Enquanto o PT aplaude, o Partido Comunista da Venezuela e a Internacional Socialista pedem mais transparência nas eleições, um pedido que o Itamaraty e Lula também fizeram ao lado de Biden.
A nota do PT comete dois erros principais: primeiro, oferece armas para a oposição brasileira explorar em um ano eleitoral, e segundo, revela a incoerência do partido em apoiar o autoritarismo ao elogiar a reeleição de figuras como Putin e Maduro. Lula, que deveria agir como uma liderança madura, falhou ao afirmar que não há nada de anormal na situação da Venezuela.
Há dois movimentos em curso: a diplomacia brasileira (Itamaraty e Amorim) tenta influenciar o regime venezuelano, enquanto Lula atua como intermediário entre o autoritário Maduro e os EUA.
Nesse delicado jogo diplomático, Lula cometeu um erro ao sugerir que o Judiciário venezuelano—cooptado pelo chavismo—poderia resolver a crise. Isso não é possível, já que a estratégia chavista foi cooptar, assim como Trump fez com os tribunais.
Como Ruy Fausto escreveu em “Caminhos da Esquerda”: “É necessário uma superação crítica do interregno totalitário para que a esquerda tenha futuro. Sem isso, não sairemos do túnel.” Lula, não há juízes em Caracas e acreditar que há é, no mínimo, ingênuo, e, no máximo, hipócrita. Com a arma apontada e a barriga vazia, não faz diferença se o tiro vem do militar de um lado ou de outro.
