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domingo, 24 novembro, 2024
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Enquanto Maduro ataca democracia brasileira, Lula prefere ignorar para dialogar com regime chavista

Por Marina B.

O clima de tensão em torno das eleições venezuelanas também repercutiu no Brasil nos últimos dias. Com um pleito marcado por irregularidades e manobras do ditador Nicolás Maduro, o autocrata chavista fez ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) recentemente.

Para analistas, o momento político no país vizinho colocou Lula em uma “sinuca de bico”. O petista, que defendeu o processo eleitoral e Maduro, vê sua imagem prejudicada pelas eleições venezuelanas.

“Lula está numa ‘sinuca de bico’ porque precisa ser o defensor da democracia, mas não pode fazer isso se quiser continuar aliado de Maduro. Portanto, é necessário que o presidente se posicione de forma energética, sem deixar margem a interpretações. Ele deve ser objetivo, condenando uma fraude no processo eleitoral ou aceitando e reconhecendo os resultados, caso a oposição vença”, observa o cientista político Valdir Pucci.

O analista pontua que Lula “parece reticente em condenar as ações de Maduro”, o que lhe dá uma imagem dúbia. De acordo com Pucci, a imagem de Lula sai prejudicada, pois é vista como “alguém que apoia ou gostaria de uma vitória de Maduro”. “Um político verdadeiramente democrático não deveria apoiar ditaduras, seja de esquerda ou de direita”, salienta.

No início deste mês, durante um ato de campanha em Caracas, capital da Venezuela, Nicolás Maduro disse que haveria um “banho de sangue” no país caso ele perdesse o pleito. “O destino da Venezuela no século 21 depende da nossa vitória em 28 de julho. Se não quisermos um banho de sangue e uma guerra civil fratricida causada pelos fascistas, garantimos o maior sucesso, a maior vitória da história eleitoral do nosso povo”, disse Maduro, assustando Lula com suas declarações, e assim tornando-se alvo das críticas de Maduro.

O cientista político Adriano Cerqueira afirma que a imagem de Lula já está prejudicada desde suas declarações sobre as guerras na Europa e no Oriente Médio. Contudo, a inércia em relação ao regime chavista e os esforços para legitimar as eleições na Venezuela agravam essa percepção negativa sobre o petista.

“Agora que o autoritarismo de Maduro ficou mais evidente com o processo eleitoral, a contradição da política externa brasileira em relação à Venezuela torna-se clara”, afirma Cerqueira.

A pressão eleitoral sobre Maduro aumentou desde que a principal nome da oposição, a deputada Maria Corina Machado, foi impedida de concorrer por 15 anos.

No poder há 11 anos, o autocrata venezuelano foi acusado de manobras eleitorais para se manter no cargo. Maduro sustentou seu discurso eleitoral com ameaças em um cenário de derrota. O principal opositor, o diplomata Edmundo Gonzaléz, aparece como favorito no pleito.

Maduro atacou Lula e o TSE, mas o petista silenciou sobre as críticas. O presidente Lula, aliado de Maduro, também foi alvo dos ataques do ditador. O venezuelano sugeriu que o petista tomasse “chá de camomila” depois que Lula se declarou “assustado” com as afirmações de Maduro sobre um suposto banho de sangue antes do resultado das eleições.

“Eu não contei mentiras. Só fiz uma reflexão. Quem se assustou, que tome um chá de camomila”, disse Maduro sem citar Lula diretamente.

Na terça-feira (23), o ditador venezuelano afirmou ainda que a Venezuela tem “o melhor sistema eleitoral do mundo” e que, no Brasil, não se auditam eleições. “Aqui temos 16 auditorias. Em que outra parte do mundo faz isso? Nos Estados Unidos? O sistema eleitoral é auditável? No Brasil? Não auditam nenhum boletim. Na Colômbia? Não auditam nenhum boletim”, afirmou durante discurso para uma plateia chavista.

Após os ataques, a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, desistiu de enviar servidores do órgão para acompanhar as eleições no próximo domingo (28).

O Planalto e o Palácio Itamaraty, por outro lado, não comentaram as afirmações oficialmente.

Apesar das críticas, a reportagem apurou que a viagem do assessor especial da Presidência, o ex-chanceler Celso Amorim, para a Venezuela está mantida. O diplomata, considerado o principal articulador da política externa de Lula, estará em Caracas no próximo domingo para acompanhar a votação venezuelana a pedido do próprio presidente Lula. Amorim é visto como um entusiasta do chavismo.

“O posicionamento do governo Lula sobre Maduro é ambíguo e a comunidade venezuelana ainda não sabe o que esperar. Por um lado, não podemos esquecer que Lula relativizou a situação decadente da Venezuela ao falar sobre ‘democracia relativa’, assim como em outras falas defendendo Maduro”, disse o sociólogo venezuelano Guillermo Pérez, que vive no Brasil há cinco anos.

Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a relutância de Lula em condenar o regime e os ataques de Maduro ao Brasil pode ser motivada pelo desejo de evitar estremecer o relacionamento bilateral entre os países ou até mesmo sua aproximação pessoal com o chavismo.

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