Após 26 meses de bandeira verde, sem cobranças adicionais na conta de luz, julho trouxe a bandeira amarela com uma tarifa extra. Especialistas preveem que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) poderá manter ou até elevar o adicional nos próximos meses, possivelmente ativando a bandeira vermelha. A Aneel deve anunciar a bandeira válida para agosto nesta sexta-feira (26).
A cobrança extra é resultado do volume de água nos reservatórios das hidrelétricas estar abaixo do ideal, com pouca expectativa de melhora significativa até o final do ano. A previsão de chuvas até dezembro está em torno de 50% da média histórica. Hidrelétricas, que costumam responder por 70% da geração de energia no país, estão operando com níveis baixos.
As bandeiras tarifárias variam conforme o custo do sistema para substituir a energia hidrelétrica, que requer aumento na geração térmica, uma opção mais cara. A bandeira amarela, em vigor atualmente, acrescenta R$ 1,88 a cada 100 kWh consumidos. Assim, uma conta de R$ 100 passa a R$ 102,60. A bandeira vermelha possui dois patamares: o patamar 1, com um valor extra de R$ 4,46 a cada 100 kWh, e o patamar 2, com adicional de R$ 7,88.
O cenário de escassez de chuvas, aliado ao inverno com temperaturas acima da média, aumenta a necessidade de operação das termelétricas, que possuem custos mais altos. A Aneel destacou esse cenário ao acionar a bandeira amarela para julho.
A Ampere Consultoria recomenda cautela para o segundo semestre. Em seu relatório, a consultoria prevê que a bandeira vermelha patamar 1 deve ser acionada em setembro e o patamar 2 em outubro e dezembro, ficando amarela em novembro. A bandeira verde, sem taxas extras, só deve voltar em 2025.
“O cenário hidrológico atual é mais favorável, com o nível dos reservatórios em 67% e temperaturas amenas. A bandeira vermelha só será acionada se houver uma piora significativa nos níveis dos reservatórios e um aumento na geração térmica,” explica Alan Henn, CEO da Voltera Energia.
O aumento do preço da energia impacta significativamente o setor produtivo e de serviços, elevando os custos no curto prazo e contribuindo para a inflação no médio e longo prazo, prejudicando a população de forma sistemática. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) estima um impacto de 2,6% na tarifa do setor industrial. O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, critica a falta de investimentos em hidrelétricas, que poderia ter evitado a dependência das caras e poluentes termelétricas.
O consultor de gestão de energia da FIEMG, Sérgio Pataca, tem uma visão mais otimista, esperando uma melhoria nas chuvas ao longo de agosto e uma normalização gradual.
A dependência do país em fontes contínuas de energia, como hídrica e térmica, é destacada, apesar do crescimento das energias solar e eólica, que são intermitentes. Além disso, os subsídios que encarecem a conta de luz, sustentando a geração de energia por combustíveis fósseis e incentivando energias renováveis, continuam sendo um desafio. Até agora, os subsídios somam cerca de R$ 20 bilhões, correspondendo a 13,43% da conta de luz das residências.
Em uma tentativa de evitar a escalada tarifária, o presidente Lula e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, renovaram a medida provisória 1.212 em abril, prevendo a antecipação de recursos da Eletrobras para reduzir a conta de luz em 3,5% a 5%. No entanto, essa medida deixou questões em aberto e pode provocar aumentos maiores nos próximos anos, além de estender o prazo para que usinas de energia renovável recebam subsídios, gerando mais despesas futuras para o consumidor.