— Todos nós só queremos ser amados, certo?
A frase de Gareth Southgate após a vitória sobre a Holanda bateu fundo nos haters. Ele foi, indiscutivelmente, um dos técnicos mais criticados ao longo da Eurocopa 2024. E até antes disso. Mas entre erros e acertos, o fato é que ele conduziu a Inglaterra à segunda final consecutiva de Eurocopa, algo inédito na história da seleção.
— Quando você está fazendo algo para o seu país, e é um inglês orgulhoso, mas você não sente isso de volta e só lê críticas, é duro. Poder celebrar uma segunda final é muito especial. Significa muito — declarou Southgate, no cargo desde 2016.
Gareth Southgate alcança segunda final de Eurocopa consecutiva — Foto: REUTERS / Wolfgang Rattay
Ele é o terceiro técnico mais longevo na história da equipe inglesa. Até hoje foram 101 jogos, com 61 vitórias, 24 empates e 16 derrotas. Ou seja, 68,3% de aproveitamento. Mas Southgate é o único entre eles que nunca perdeu em Eurocopas: em 13 partidas, oito vitórias e cinco empates.
Campanhas da Inglaterra com Gareth Southgate:
Copa do Mundo 2018 – Quarto lugar Liga das Nações 2018/19 – Terceiro lugar Liga das Nações 2020/21 – Nono lugar Eurocopa 2020 – Vice-campeão Liga das Nações 2022/23 – 15o lugar (rebaixado) Copa do Mundo 2022 – Sexto lugar Eurocopa 2024 – Finalista
Tirando o lendário Alf Ramsey, que comandou o English Team entre 1963 e 1974 e foi campeão da Copa do Mundo de 1966, além de terceiro colocado na Euro-1968, nenhum treinador obteve o mesmo sucesso que Southgate à frente da seleção mais antiga do mundo (existe desde 1872).
Mas por que então ele é tão criticado?
Convocações, escalações e futebol ruim Nem sempre foi assim. A missão de assumir seleção principal da Inglaterra veio em 2016, após o escândalo de corrupção que fez o antigo técnico Sam Allardyce pedir demissão. Com Southgate, a equipe inglesa terminou as eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018 invicta, com oito vitórias em 10 jogos. E na Rússia o time chegou à semifinal, mas perdeu para a Croácia na prorrogação.
Aquela campanha empolgou a torcida e a imprensa do país. Afinal, a Inglaterra não atingia uma semifinal de grande torneio desde a Euro de 1996. Imagine a euforia quando a seleção chegou na final da Euro-2020, a ser decidida em Wembley. “Football is coming home”, cantavam os ingleses. O futebol voltava para casa. Mas a Itália foi campeã, no mundo cruel dos pênaltis.
Inglaterra foi vice-campeão da Euro 2020, perdendo para a Itália nos pênaltis — Foto: Getty Images
As críticas começaram a vir com mais força principalmente a partir de 2022/23, ou seja, nas duas últimas temporadas do futebol europeu. Os resultados positivos também diminuíram, e a Inglaterra chegou a ser rebaixada na última Liga das Nações.
Apesar dessa péssima campanha no torneio mais recente, a seleção inglesa chegou com grande favoritismo para a Eurocopa 2024. Até porque reunia no mesmo time: Harry Kane, melhor jogador da Bundesliga; Foden, o craque da Premier League 2023/24; e Bellingham, o melhor da última La Liga e candidato aos prêmios de melhor do mundo.
A convocação para a Euro na Alemanha deu o que falar. Southgate foi muito criticado por deixar Grealish, do Manchester City, fora da lista. Maddison e Maguire também foram cortados.
Os questionamentos atingiram outro nível diante do futebol ruim apresentado pela Inglaterra na fase de grupos. Dois gols em três jogos.
Southgate até chamou a responsabilidade para si, mas foi difícil entender como uma equipe com tantos talentos, em vários setores, jogou tão mal. Ou porque Cole Palmer, líder de participações em gols no último Campeonato Inglês, foi pouco aproveitado.
Southgate foi alvo de copos arremessados por torcedores ingleses após o empate sem gols com a Eslovênia. Cole Palmer ao lado de Gareth Southgate na Euro; técnico foi criticado por não usar o jogador — Foto: Getty Images
Virada de chave com golaço de Bellingham Southgate não conseguia ajeitar o time, principalmente no meio de campo. Quando o destino dele e da Inglaterra caminhavam para uma eliminação precoce nas oitavas de final, Bellingham acertou uma bicicleta espetacular no jogo contra a Eslováquia.
Aquele foi o primeiro jogo do meio-campista Mainoo nesta Eurocopa como titular. A entrada dele foi um acerto do técnico. E o time, aparentemente, acordou desde então. A vitória nos pênaltis contra a Suíça também foi um sinal de que o grupo estava mais forte psicologicamente. Southgate adotou uma série de ações, justamente nas penalidades, para aumentar a união entre os jogadores.
Essa foi a primeira vez, em 10 decisões de pênalti da seleção inglesa em grandes torneios (Eurocopa e Copa do Mundo), em que o time acertou as cinco cobranças, segundo levantamento da Opta.
O sentimento de “virada” se repetiu na vitória sobre a Holanda na semifinal. A Inglaterra empatava até os acréscimos, quando o técnico resolveu tirar Kane e Foden para as entradas de Palmer e Watkins. Decisão que parecia sem sentido, comparando a relevância dos nomes. O final da história: passe do camisa 24 para o gol decisivo do centroavante.
A Inglaterra foi a primeira seleção na história a alcançar a decisão da Euro após sair perdendo nas quartas e na semifinal.
Holanda 1 x 2 Inglaterra | Melhores Momentos | Semifinal | UEFA Euro 2024
Gareth Southgate tem contrato com a federação de futebol da Inglaterra (FA) até o final desta Eurocopa. As notícias mais recentes são de que a diretoria quer que ele permaneça, independentemente do resultado contra a Espanha no Estádio Olímpico de Berlim.
Neste domingo, ele terá a segunda chance como técnico de, certa forma, enterrar as críticas pelo pênalti perdido quando jogador na semifinal da Euro de 1996. Ele foi o único a desperdiçar a cobrança contra a Alemanha, que terminou campeã daquela edição, realizada na Inglaterra.
— A única razão pela qual aceitei esse cargo foi para tentar e trazer sucesso para a Inglaterra como nação, e para tentar e melhorar o futebol inglês. Levar à seleção para a sua primeira final fora de casa é imenso motivo de orgulho pra mim — disse Southgate.