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segunda-feira, 25 novembro, 2024
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Macron antecipou eleições e destruiu seu próprio governo

Por Marina B.

A decisão de Emmanuel Macron de antecipar as eleições na França em três anos, após os resultados desastrosos do seu partido, Renascimento, no parlamento europeu, decretou a decadência do seu governo – e possivelmente da Quinta República.

A primeira evidência disso foi vista no primeiro turno eleitoral, em 30 de junho, quando a direita nacionalista de Le Pen e Bardella triunfou nas urnas, alcançando históricos 33,15% dos votos e arrastando o bloco governista para o terceiro lugar com 20%.

Com a possibilidade da força direitista de Le Pen alcançar a maioria no parlamento francês, Macron apelou por uma “unidade nacional” contra o que ele chamou de “uma ameaça ao futuro do país”, convocando os partidos políticos às urnas.

O apelo teve algum efeito, já que quase 60% dos eleitores compareceram às urnas no segundo turno, em comparação aos 38% em 2022.

No entanto, essa “aposta total” revelou-se desastrosa para Macron, enfraquecendo sua base política e fragmentando a Assembleia Nacional.

Enquanto a aliança esquerdista Nova Frente Popular (NFP) ganhou 49 cadeiras a mais, e o Reagrupamento Nacional (RN) de Le Pen aumentou 53 cadeiras, a coalizão de Macron perdeu 86 cadeiras.

Essa situação decorre de uma estratégia política que funcionou nas eleições de 2022, mas que agora se voltou contra ele. Macron tentou se posicionar como uma força centrista contra o “extremismo”, unindo partidos moderados de esquerda e direita. Contudo, esses partidos se dividiram em seus respectivos campos nas eleições, tornando a França ingovernável.

Para muitos analistas, essa decisão unilateral de Macron coloca a Quinta República em um território desconhecido e pode ser responsável por sua destruição.

Agora, a câmara baixa é formada por três blocos principais, sem que nenhum tenha a maioria necessária de 289 cadeiras para governar – o NFP, os macronistas e o RN estão bem distantes desse número. Isso criou um ambiente de instabilidade política e paralisação do parlamento.

A ingovernabilidade deve durar, já que o NFP, apesar de ser o grande vencedor do segundo turno, ainda precisa de cerca de 90 assentos para uma maioria funcional.

Esse cenário “despresidencializa” o atual sistema francês e pode levar a um retorno à prática parlamentarista da Quarta República, com maior poder para a Assembleia Nacional.

Stéphane Cadiou, professor de ciência política na Universidade de Lyon 2, explicou ao portal Euronews que Macron “desregulamentou” o sistema político francês, tradicionalmente marcado pela divisão entre direita e esquerda.

“Para tornar seu projeto pessoal um objetivo, ele teve que convencer as pessoas, minando todos os parâmetros familiares do espaço político”, afirmou Cadiou.

No entanto, essa tática apenas enfraqueceu Macron. “Ele não conseguiu construir nada, deixando apenas um espaço político inacabado”, disse Cadiou.

Segundo o professor, Macron tentou criar um movimento vinculado à sua imagem que unisse os dois lados políticos, mas o resultado das últimas duas eleições mostrou que tanto as forças de esquerda quanto as de direita tradicionais perderam apoio ao aceitarem o pacto.

“Ele apostou em sua experiência, tanto no serviço público quanto no setor privado, para garantir sua legitimidade para superar a divisão esquerda-direita”, disse Cadiou.

Cadiou ressaltou que Macron buscou centralizar ainda mais o poder no presidente durante a Quinta República (iniciada em 1958).

O sistema francês é semipresidencialista, com um presidente e um primeiro-ministro no Executivo.

Como apontou o portal Conversation, nos últimos anos, sob os presidentes Nicolas Sarkozy, François Hollande e Emmanuel Macron, o poder do primeiro-ministro diminuiu visivelmente, seguindo principalmente as ordens do presidente.

Durante a gestão de Macron, a Assembleia Nacional funcionou como um “meio de respaldo” para as políticas presidenciais.

Por exemplo, quando a Câmara contestou a reforma da aposentadoria, que elevou a idade mínima, Macron conseguiu a aprovação usando um dispositivo constitucional que ignorava uma resposta parlamentar positiva.

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