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sábado, 23 novembro, 2024
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Crise fiscal brasileira: Cenário caótico com aumento do risco país

Por Marina B.

Num ambiente global desafiador, o Brasil enfrenta dificuldades superiores às de países economicamente comparáveis. Desde o início do ano, observa-se uma deterioração generalizada nos mercados emergentes, porém as incertezas locais, especialmente no campo fiscal, têm agravado o cenário econômico brasileiro.

Um indicador que ilustra essa deterioração mais intensa no Brasil é o risco país, medido pelos Credit Default Swaps (CDS) – um tipo de seguro contra o risco de inadimplência dos países. De janeiro até 1º de julho, o CDS brasileiro subiu 38 pontos, atingindo 170 pontos. Este aumento é superior ao observado em economias similares. No mesmo período, o CDS do México avançou 22 pontos, seguido pelo Chile (7 pontos), Peru (6 pontos) e África do Sul (5 pontos). A Colômbia registrou o pior desempenho, com alta de 39 pontos.

Outra maneira de avaliar como o Brasil tem sido mais afetado que seus pares é ao comparar a média do risco país entre Colômbia, México e África do Sul – economias com notas de crédito semelhantes às do Brasil pelas principais agências de rating. No final de 2023, a média do CDS desses países era 18 pontos maior que a do Brasil. Em 1º de julho, essa diferença caiu para apenas dois pontos.

“Essa disparidade reflete a piora relativa do Brasil em comparação com outros países semelhantes”, afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “Embora o CDS tenha aumentado, o incremento foi bem menor do que o observado nos preços de ativos locais, como câmbio e juros.”

É crucial ressaltar que o CDS brasileiro apresenta menor volatilidade do que no passado, devido às contas externas equilibradas e ao acúmulo significativo de reservas ao longo dos anos. Portanto, não há um risco iminente de inadimplência.

A incerteza em relação ao futuro da economia brasileira é evidente ao se observar o comportamento do câmbio. Nesta semana, o dólar chegou a R$ 5,70, enquanto hoje está cotado em R$ 5,48, acumulando alta de 13,07% no ano.

O movimento de deterioração generalizada nos países emergentes tem como pano de fundo a expectativa de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) mantenha os juros elevados por mais tempo. No início do ano, os analistas previam até seis cortes nos juros nos EUA, mas hoje esperam apenas um ou dois.

“Os juros mais altos nos EUA levam os investidores a preferirem economias consideradas menos arriscadas, tornando-se mais seletivos com os emergentes”, explica Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital. “O Fed é o elemento comum que tem impactado o Brasil e os demais emergentes. Nos últimos dois meses, vimos uma piora não apenas por fatores externos, mas também por questões locais.”

No caso brasileiro, o cenário se complicou ainda mais devido ao adiamento das medidas de ajuste fiscal. Em abril, o governo revisou para baixo as metas de superávit primário para os próximos anos, refletindo ceticismo quanto à capacidade de entrega desses resultados.

“A situação fiscal é a principal fonte de preocupação”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Para melhorar as contas públicas, o Brasil precisa retomar os superávits primários, o que só será possível com um ajuste significativo no lado das despesas, algo que não tem sido efetivamente sinalizado pelo governo.”

Na quarta-feira, diante do aumento da incerteza nos mercados e da valorização do dólar, o presidente Lula alterou seu discurso, reafirmando o compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. Esta mudança ocorreu após alertas de economistas sobre o impacto da alta do dólar na inflação.

“No entanto, a percepção de risco permanece clara, fundamentada na situação fiscal. Este é o núcleo central de toda a preocupação”, conclui Vale.

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