A recente valorização do dólar levou a moeda norte-americana a atingir seu ponto mais alto em mais de dois anos, se aproximando dos R$ 5,70. Um modelo econômico que analisa os fatores influenciadores do câmbio no Brasil indica que mais de 80% da desvalorização do real no primeiro semestre deste ano tem origem em causas internas.
Segundo Livio Ribeiro, economista e sócio da BRCG Consultoria, o movimento de depreciação do real não está associado a um ataque especulativo, caracterizando-se por uma direção consistente e sem volatilidade. Ele explica que o aumento da percepção de risco e o medo têm sido determinantes nessa rápida mudança de patamar.
O modelo econométrico de Ribeiro considera seis variáveis principais para calcular a formação do preço do dólar: a cotação diária, o CDS (indicador de risco-país), o índice DXY do dólar em relação a uma cesta de moedas, o índice CRB de preços de commodities, os juros dos títulos públicos de 10 anos dos EUA e a diferença de juros de um ano entre o Brasil e os EUA.
Durante o período analisado, o índice DXY, que mede o movimento do dólar contra as principais moedas do mundo, registrou uma alta de 4,5%, significativamente menor do que a valorização observada contra o real. Segundo o modelo de Ribeiro, os fatores domésticos foram responsáveis por 82,16% da valorização do dólar no primeiro semestre, enquanto os fatores externos contribuíram com 26,43%.
Ribeiro destaca que essa intensidade na contribuição dos fatores domésticos não é comum nos mais de 10 anos de utilização do modelo. Ele ressalta que o modelo não revela a causa raiz dos movimentos cambiais, mas observa que as reações do mercado às declarações do presidente têm sido significativas.
Diante da recente desvalorização intensa, cresce a pressão para que o Banco Central intervenha no mercado para conter a deterioração. Contudo, as indicações dentro do governo sugerem que não há, atualmente, condições que justifiquem tal intervenção: disfuncionalidade do mercado ou falta de liquidez.
Livio Ribeiro concorda que não há motivos para o Banco Central intervir no câmbio neste momento. Ele enfatiza que qualquer tentativa de tratar o movimento como disfuncional poderia ser interpretada como um reconhecimento de um ataque especulativo, potencialmente exacerbando a situação.
Na terça-feira (2), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o ruído provocando a alta do dólar está sendo gerado pelo próprio governo. Ele apontou ajustes necessários na comunicação, especialmente em relação à autonomia do Banco Central e à solidez fiscal, como medidas essenciais para tranquilizar os mercados financeiros.
Essa revisão reflete uma abordagem centrada na comunicação como um meio fundamental para estabilizar a situação, mais do que em quaisquer mudanças substantivas na política econômica.