A Espanha está observando atentamente as eleições legislativas francesas de 2024, procurando paralelos com sua própria situação política. A convocação de eleições antecipadas por Emmanuel Macron, após a derrota de seu partido nas eleições europeias, gerou grande interesse e análise na política espanhola.
O partido Sumar, parceiro minoritário do governo de Pedro Sánchez, vê a Nova Frente Popular francesa como uma inspiração para as políticas progressistas espanholas. Elizabeth Duval, secretária de comunicação do Sumar, destacou a importância dessa união: “O aspecto realmente extraordinário e inesperado dessas eleições francesas foi essa união da esquerda, esse movimento para formar a nova Frente Popular. Essa oportunidade de não escolher entre o ruim e o pior, de não escolher entre Macron e Le Pen, é o que realmente dá esperança”, disse a porta-voz do partido.
Preocupação com a direita
O receio de um governo de direita na Europa é palpável, aumentando as preocupações sobre o impacto na estabilidade europeia. Borja Bergareche, sócio de Comunicação e Liderança da Harmon, criticou a decisão de Macron. “Se a intenção era despertar a sociedade francesa para a tendência crescente de apoio à antiga Frente Nacional e a outros partidos de direita, parece claro que a decisão foi um erro, porque todas as sondagens mostram o partido de Marine Le Pen e outras forças de direita como os claros vencedores”, afirmou.
A perspectiva de o partido de Marine Le Pen ganhar um poder significativo alarmou muitas pessoas preocupadas com o futuro da unidade europeia e dos valores democráticos. “O que acontece na França afeta diretamente o futuro do projeto europeu e a forma como permitimos que o ambiente pernicioso de polarização que forças, como Marine Le Pen, estão criando na Europa, se instale”, explicou Borja Bergareche.
Em sintonia com o Vox
Por outro lado, o Vox, partido de direita espanhol, enfatiza seu alinhamento com Marine Le Pen. “O seu partido, o Vox, e o seu presidente, o meu querido Santiago Abascal, com quem temos estado em contacto há algum tempo, encarnam o movimento patriótico espanhol com que sei que posso contar”, anunciou Le Pen durante um evento organizado pelo Vox antes das eleições europeias, que reuniu os principais partidos do seu espectro político em Madrid.
Marine Le Pen garantiu ainda, em uma entrevista, que, se governar, impedirá o antigo presidente catalão Carles Puigdemont de pisar solo francês. O partido de Abascal espera que a vitória do Rassemblement National se torne uma vitrine para promover as ideias compartilhadas pela direita europeia.
Impacto na Espanha
Borja Bergareche também destacou a possível complexidade do panorama político. “O cenário mais provável é uma coabitação perturbadora entre um presidente centrista como Macron e um primeiro-ministro da Frente Nacional. Isso coloca grandes desafios à política europeia e à estabilidade democrática”, alertou.
“A lição francesa, que se aplica a qualquer outro país, é que é cada vez mais difícil para os partidos moderados, responsáveis nas instituições, projetarem junto aos seus concidadãos as conquistas das pequenas e valiosas democracias liberais imperfeitas que temos, que nos frustram a todos, mas que são claramente o único sistema que salva as sociedades que temos”, concluiu Bergareche.